Perdoar e não esquecer

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Inúmeras são as maneiras de se entender os fatos, as lições e tudo o mais. Essas diferenças não dependem apenas da mentalidade de cada um, porque a mesma pessoa muda seu entendimento durante a vida, sobretudo pelas situações complicadas, que a levam a amadurecer.

Apesar disso, muitas vezes uma interpretação passa pelas gerações e não é examinada, para ser confirmado se continua sendo válida e funcional ou se está na hora de ser eliminada ou reciclada.

Dentre as muitas dessas interpretações, está a de que perdoar é sinônimo de esquecer.

Essa afirmação vem da observação dos fatos e de uma pesquisa de campo que mostra como as pessoas funcionam psicologicamente, não esquecendo as situações marcantes e mais graves que ocorreram em suas vidas. Esquecem, no geral, situações irrelevantes, coisas do cotidiano, algo que falaram ou ouviram. Esquecem também os momentos ruins que já foram devidamente administrados, há tempos, e deixaram de ter significação.

Ser “obrigado” a esquecer não funciona. Quanto mais há esforço nesse sentido, mais o fato vai sendo marcado e fixado. Há uma negação do que existe, e isso  aumenta o vínculo com a situação.

As pessoas se empenham muito, oram, pedem ajuda e quando a situação amaina, até pensam que esqueceram as ofensas, mágoas e dores. Mas por alguma razão relembram e tudo é revivido, acompanhado dos sentimentos que marcaram o fato, mostrando que o esquecimento não aconteceu. Até porque, no geral, aqueles que facilitam as dificuldades não estão interessados em mudar de conduta e também, nos aborrecemos sempre pelas mesmas coisas, porque ainda não mudamos verdadeiramente a nossa maneira de ser.

Ter que esquecer algo que aconteceu é ilógico, não apenas porque não se consegue, mas pelo fato de que a memória serve para nos dar -e cada vez mais- a consciência de como temos sido no transcurso do tempo; bem como, daquilo que não deve ser repetido, por causa das más consequências advindas. Esquecer é perder essa conecção conosco mesmos, e eliminar a possibilidade de que nossos processos de reciclagem de pensamentos e atos sejam acionados, melhorados e promovam a seleção do que serve, expurgando o demais.

No entanto, se colocarmos o verbo esquecer num sentido figurado, ou seja o de não darmos importância a…, ele pode ser usado dentro da lógica da vida. Mas nesse caso é preciso haver, sempre, a explicação de que está sendo utilizado com essa significação metafórica.

Na verdade, perdoar é um ato de inteligência se nossa postura for a de reciclarmos os fatos, buscando suas causas -aquelas nascidas de nós mesmos- e que os determinaram. Assim, poderemos dar-lhes outra conotação, ou seja, percebermos que representam o didatismo das Leis da Vida, encontrando formas de nos chamar a atenção para pensamentos, sentimentos e condutas que produzem maus resultados, em curto ou longo prazo. Em outras palavras, entendemos nossos equívocos e buscamos nova atitude interior. Como resultado, automaticamente o fato doloroso passa a ser visto de outra forma, como se ele mudasse de cheiro e cor.

Gradativamente, essa postura vai ganhando corpo, vamos nos conhecendo melhor e podendo reciclar-nos. As lembranças dolorosas vão deixando de doer, pela compreensão de como as provocamos -mesmo sem querer- fruto de uma maneira de ser que foi sendo substituída por outra melhor. Isso provoca a diluição das emoções correlatas e a importância que dávamos ao acontecido desaparece.

Um dia, talvez nem nos lembremos mais dele, mas se lembrarmos, será como algo neutro e superado. O esquecimento natural acontece, não por obrigação ou por medo de Deus, e sim por um trabalho interior de autoconhecimento e transformação. Há progresso espiritual nesse aspecto: compreendemos a nossa incompreensão e renovamos.

Passa-se a vivenciar que todo e qualquer prejuízo causado a outros, em primeiro lugar é causado a quem o faz. Porque sua origem e móvel está dentro dessa pessoa, nas escolhas feitas de pensamentos e atos que provocam, “atraem”, criam sintonia com pessoas e Espíritos de características semelhantes, os quais passam a agir conosco como agimos com os outros. É a justeza das Leis divinas, que visam o nosso amadurecimento, a descoberta do Bem verdadeiro e a condição de não provocarmos prejuízos reais, nem a nós mesmos e nem a ninguém.

Quando, por razões psicológicas de predomínio, preconceitos, egocentrismo ou vaidade, alguém se julgar lesado, mas isso for apenas manifestação dos seus truques mentais, o pseudo causador não tem responsabilidades, é óbvio! Basta se garantir pela consciência de sua conduta limpa e pela postura benevolente, mas não se deixando  envolver em culpas e deveres inexistentes.

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