O mundo vive uma crise moral ou uma fase de oportunidades?

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A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”

 Em cada época da história humanidade terrestre, foi reconhecida a existência de uma crise. Fruto de algum desequilíbrio, profundo ou superficial, do status quo, essas crises foram reais, quando a sociedade sofreu reflexos penosos em uma ou mais de suas características, ou aparentes, quando algum aspecto da organização social passou por modificações naturais, desagradando ou atemorizando os mais conservadores. Basta ler relatos e jornais de época e vamos encontrar a palavra crise, apresentada com cores berrantes, quando não terríveis.

Em um século no Brasil, por exemplo, passou-se por ditadura, duas guerras mundiais, revoluções populares e militares, inflação, disputas ideológicas, novas doenças, dissolução dos antigos valores familiares, igualdade da mulher e das minorias, industrialização, avanço tecnológico, afora os grandes fenômenos atmosféricos, que por aqui são brandos. E mais os reflexos, diretos ou indiretos, das crises dos demais países, que cada vez mais nos atingem pelo processo globalizador das atividades humanas.

Em todos os países, a cada fase atingida por um ou mais desses eventos, a idéia da crise se instala, vista como uma situação caótica, sem controle, gerando medo, desequilíbrio social e abusos generalizados.

No entanto, dependendo do enfoque dado, a crise pode ser também, uma época de oportunidades de aprendizagem e criatividade, de reciclar condutas, valores, estratégias e encontrar formas novas e mais eficientes de viver e interagir.

O uso do termo crise, com a conotação psicológica de desgraça, demonstra um predomínio das emoções sobre a razão e da contaminação social, por idéias negativadas e dilapidadoras das forças morais das pessoas. Usá-lo, entendendo ser o ponto mais crítico de um processo que se instala e declina, não estabelece pânico; e pode ser uma forma de despertamento e educação moral e espiritual.

Crise existe. Ela é o pico de um processo desarmonizador. É a soma potencializada de muitas consequências ruins, fruto da maneira “cega”, orgulhosa e destemperada de se usar o livre arbítrio; seja por parte de uma pessoa ou de cada uma das pessoas envolvidas.

Nossas posturas íntimas geram pensamentos e ações; e também, a ausência de percepção e de reação adequada. Por causa disso, atitudes vão sendo tomadas, coisas vão acontecendo, situações vão se instalando… tudo criado por essas posturas, face ao que nos cerca ou atinge. O acúmulo de consequências negativas produz a crise. É sempre esse seu processo de formação, seja ela pessoal, social, moral, financeira, familiar ou da saúde física ou mental.

Toda crise tem vida curta, nunca é algo perene. Após estabelecida, dura um período que sempre é menor do que o tempo de sua formação e começa a decrescer, declinando gradativamente, até o processo alcançar seu possível equilíbrio.

Num futuro, próximo ou remoto, se as posturas íntimas (causas), não tiverem sido percebidas e transformadas, o processo vai se instalando de novo e pela somatória das consequências, acontece outro pico da problemática, ou seja, a crise.

Os valores que a sociedade humana ostenta são os divulgados pelos interesses de alguns grupos poderosos e não todos os que nela existem. Sem atenção a isto nos iludimos muito, “comendo gato por lebre”.

Para ser aceito e reconhecido na sociedade, dois principais caminhos se apresentam: subjugar-se a seus valores, deixando de ser quem é ou assumir-se, ser si mesmo, garantindo-se em todas as situações, apesar das críticas e agressões dos interesses e opiniões contrariados; mas com isso fazer-se respeitar.

A sociedade não deve ser execrada, até porque estamos nela… Assim como não é isolando-se que viveremos melhor. Mas ao entender o momento presente como fruto do passado coletivo, respeitando as motivações das pessoas e aproveitando o que nos serve e convem, trabalhamos pela nossa paz e pelo equilíbrio geral. Podemos agir um pouco melhor a cada dia e até abraçar a divulgação de valores construtivos.

Vivemos num tempo em que a liberdade começa a ser conhecida de forma ampla e ainda não sabemos lidar com ela. Por outro lado, nunca se teve tanto de tudo, embora permaneçam existindo a fome, a miséria e o abuso. Que possamos, então, colaborar com a nossa parte sem nos contaminarmos ou adoecermos moralmente.

No Espiritismo, entendido como filosofia científica, encontram-se os raciocínios necessários para nos firmarmos em nós mesmos e desempenharmos, a contento, nosso papel na sociedade, que não é maior e nem menor que o dos demais. É o nosso. E contribuirá para o Bem geral, se vivermos sem medo e sem pretensões, na consciência de sermos Espíritos em evolução, desenvolvendo a própria essência.

Esse é um momento único na história da Terra, porque temos abundância de tudo, oportunidades inúmeras e tantos recursos, de modo que aqueles que realmente desejam, podem encontrar saídas e soluções boas para as suas necessidades e aspirações.

É claro que ainda a injustiça social predomina, porque o orgulho prevalece, acompanhado dos seus filhos: vaidade, prepotência, preconceitos, egoísmo, medo, manipulações e má fé. Tudo isso faz parte da evolução dos terráqueos e será gradativamente superado. O que não significa cruzar os braços, mas ao contrário, fazer a sua parte, tanto interna quanto externamente, pela participação social. Cada um, como queira e quanto possa…

Moralmente também progredimos muito e hoje, apesar de tudo, temos leis mais justas, condutas mais moralizadas e ação benemérita em muitos campos, manifestadas por grande parte da sociedade. E também, uma exposição das condutas, cada vez maior, coisa que antes não havia, por predominar a hipocrisia generalizada e vista como mal necessário.

Essa exposição de tudo e de todos, aparenta termos um caos moral, porque grande parte do que ficava oculto anteriormente, agora vira noticiário de TV e jornais. Mas não há um caos e nem regredimos. Isso é ilusório. Só estamos vendo o que já havia, mas estava sempre sendo ocultado. Alem do que, acreditar numa crise moral favorece os mal intencionados, encarnados e desencarnados, pela fragilização social que acarreta, como se estivéssemos á mercê da malignidade, da astúcia perniciosa e das “trevas”.

Basta ver quanta gente é correta, verdadeiramente digna, quantos se dedicam seriamente a causas sociais e nobres, coisa que não é divulgada, porque não escandaliza e nem traz lucros egoísticos …

Porem, é fato que quanto mais pessoas viverem com medo e desiludidas do Bem, buscando fora de si e nos “salvadores” a solução para aquilo que é seu, mais estão facilitadas as ações maldosas e dominadoras da consciência humana.

Há forças que lutam pela manutenção do medo, da inação, dos excessos, do status quo, dos temores religiosísticos, dos preconceitos, do terrorismo moral, e da divulgação só do que é ruim; ou seja, puxam para “baixo”, para o lado contrário ao da libertação pessoal e social, pois esta implica em confiança em si e na Vida e pelo gosto de renovar- se, sem culpas e sem baixa estima.

Nossas relações são 99% fluídicas e o que pensamos estabelece o ambiente que criamos ao nosso redor, que se junta com os dos outros. De modo que se a prevalência for de agressividades, por exemplo, essa característica acaba contaminando muita gente e Espíritos descuidados, que passam a se comportar dessa maneira por puro modismo, sem auto-análise e sem auto-observação sobre o que serve ou não, para si. E fica parecendo que todos são violentos; mas é só uma criação artificial que vai se instalando, e pode dominar.

A observação do que se pensa e sente é um chamamento espírita, para irmos tomando conta de nós mesmos e conseguirmos escolher o que nos convem. Todavia, se nossa intenção é sermos iguais aos outros ou se tememos a independência moral, então só nos resta a conduta de rebanho conduzido.

O Espiritismo nada proíbe, ao contrário, nos ensina que temos arbítrio sobre as decisões e escolhas; mas também nos fala do bom senso de examinarmos tudo, respeitarmos todos e buscarmos nos conhecer para saber qual o nosso lugar na sociedade, na família e dentro de nós mesmos.

Como já foi dito, a moral espírita é feita do conhecimento dos Princípios do Espiritismo, norteados pelo ensino de Jesus, de agirmos com o outro como queremos que ajam conosco. Com essa moral, vivenciada da maneira e o quanto possamos, nada há que temer. As dificuldades fazem parte do crescimento pessoal e coletivo, para o ganho de auto-domínio e desenvolvimento das nossas potencialidades.

Crise ou oportunidade? Uma, outra ou ambas?

Depende de como cada um vê as coisas…

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