Pensamento funcional X escravidão mental

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Ler Kardec – LE – 369, 370, 370-a, 634 e 835:

Todos os órgãos e funções que existem em nosso corpo, são frutos do processo evolutivo do Espírito, nos milênios.

A progressão ou evolução espiritual, desde o nosso início, acontece numa via de mão dupla: as potencialidades em germe “empurram” para as experiências externas, criando as formas corporais, e estas, por sua vez, estimulam as potencialidades, que se abrem e ampliam.

Assim, passamos pelos reinos mineral, vegetal e animal, desenvolvendo, em nós mesmos, capacitações “transcritas” nas formas e organização físicas. Ou seja: o que há no corpo, há necessariamente no Espírito, que é a causa dele existir. O corpo é a materialização da evolução espiritual.

O Espírito não tem formas, mas tem as condições evolucionais galgadas, que formam as formas e as funções corporais; isso em todos os níveis evolutivos.

Pensando desse jeito, como espíritas, reconhecemos o Espírito individualizado, que é o ser inteligente da Criação, como a causa de tudo que acontece a si mesmo, e como o agente de sua própria evolução. Sem desconsiderar, é claro, a interinfluência que todos exercem sobre todos, sejamos encarnados ou desencarnados.

Mente e cérebro: Nessa linha de raciocínio, se o corpo tem cérebro, que é um órgão complexo, composto e de funcionamento tão amplo, que ainda nem é totalmente conhecido pela Ciência, é porque o Espírito já tem essa condição desenvolvida em si mesmo.

Se há cérebro no corpo, há capacidade evolutiva para tanto, no Espírito. E chamamos a essa capacitação, de mente.

Mente, então, é a denominação de um conjunto de funções espirituais interligadas: registrar sensações, executar ações já mecanizadas, como a circulação ou a digestão; pensar, raciocinar, aprender, memorizar e condicionar-se.

Essa espetacular capacidade mental foi sendo formada por cada um, em si mesmo. Ou seja, temos mente, mas não somos a mente!

Tendo-a, quando vamos reencarnar formamos o cérebro no corpo físico, para que as funções mentais se manifestem na vida de encarnado.

Cada um tem a mente de um jeito só seu, por sermos individualidades, com história particular. Semelhante ao fato de termos estômago no corpo, mas ele funciona, em cada um, de uma forma mais ou menos eficiente, dependendo de quem fomos e somos.

O poder de condicionar: A função mental que mais nos confunde é a capacidade de condicionar-se, ou seja, habituar-se e funcionar “no automático”.

Possivelmente, essa seja das primeiras funções da mente, porque dá aos Espíritos a condição de gerir experiências materiais e vidas físicas, com formas fixas e características específicas.

Uma célula, por exemplo, é um ser completo: se alimenta, elimina resíduos, respira, guarda reservas nutricionais, tem circulação e se multiplica. Tudo isso funciona porque existe ali um Espírito, mas ele não comanda essas funções. Está tudo “automatizado”, condicionado, mostrando que já houve uma gigantesca evolução, desde que ele se individualizou do Elemento Espiritual Primitivo, criado por Deus; época em que era totalmente simples e ignorante; pode-se dizer, “zerado”.

Estudando a evolução dos corpos através das espécies e as funções cerebrais, os cientistas materialistas pensam que a matéria age por si… Mas nós espíritas sabemos que ela é sempre só instrumento.

Ao lado da sensibilidade, que é a característica essencial dos Espíritos, demonstrada desde as plantas, as funções mentais de captação de sensações e o condicionamento, parecem ser nossas características mais primitivas. Daí a se chegar ao complexo organismo humano, formado de trilhões de células, organizadas em órgãos complementares entre si, foi um longo tempo de existir, encarnando, desencarnando e evoluindo sempre. Ou seja, desenvolvendo potencialidades, gerando condições de ter formas cada vez mais complexas, utilizando-as e aprimorando funções. E também, fixando e gravando tudo isso em si mesmo, o que constitui o grau evolutivo, que se manifesta nos corpos que vamos podendo ter.

Desprezar o corpo e não prestar atenção “ao que nos diz”, seus sinais, dores, bem estar, sensações, situação de funcionamento, fluidez, emperramento, necessidades…é  nos desprezar, demonstrando uma enorme irresponsabilidade, mesmo que inconsciente. Porque ele revela as verdades que costumam ser ocultadas pelos hábitos mentais.

Condicionar facilita e economiza energias: A especificidade do condicionamento, para nós humanos, não se mostra apenas no funcionamento orgânico. Nossa evolução desenvolveu outras capacitações, como a de pensar, organizar idéias, aprender teoricamente, fazer raciocínios abstratos, imaginar, criar objetos e arte… Com isso, conseguimos mecanizar aprendizados muito importantes e práticos, como por exemplo o alfabeto e a leitura, as operações matemáticas básicas da tabuada, fazer

 

alimentos e remédios, tocar instrumentos, dirigir automóveis, digitar textos… sem os quais, nossa vida atual não poderia ser como é.

O que está assim mecanizado também economiza energias, porque gasta poucos recursos para acontecer, ao contrário do que ocorre se fossemos pensar e decidir.

Escravos da mente: Por outro lado, a facilidade que nos traz a automatização nascida desses condicionamentos mentais, cria hábitos de pensar, agir e reagir, a ponto de perdermos o domínio sobre nosso sentir, sobre o pensar e sobre a nossa conduta; tudo levado de roldão, tornando-nos “escravos da mente”.

Como pode ser isso, se a mente é minha? Muito simples: o condicionamento se faz no que está memorizado e repetido, repetido, repetido… Seja o que for, bom ou mau, útil ou prejudicial. Pode-se dizer que a mente “aprende” por repetição e se automatiza, se condiciona, pela insistência desse repetir.

Se não pararmos para pensar  – e note-se que dizemos PARAR-  sobre o que fazer, como e porque, vamos agindo “no automático”, como já foi programado anteriormente. É semelhante às programações de computador…

Elegemos uma forma de entender algo, como a melhor, pelas mais variadas razões, e a temos como verdade absoluta; por isso, não recebe mais análise. E vamos sempre  pensando igual, o que determina um certo modo de agir e tudo é sempre repetido, tornando-se uma programação mental.

Só eu sei resolver as questões familiares!  Essa é uma idéia tomada como exemplo, mas poderia ser qualquer outra, infinitamente. Sustentada no orgulho e na pretenciosidade, ela é posta em funcionamento, a pessoa vai se condicionando e aos familiares, e fica “programada” ou seja, escrava da própria mente. Assim, não observa os pesos desnecessários que carrega, as dores lombares decorrentes, os transtornos em que vive e até o autoabandono, em função de resolver a vida daqueles que, por sinal, estão plenamente capacitados para cuidarem de si mesmos, mas também condicionados à acomodação, devido a quem tudo faz no lugar deles.

De maneira que os nossos dias, atividades e formas de lidar conosco mesmos, podem estar “robotizados” e destituídos de escolhas conscientes. Portanto, rotineiros, sem graça, sem gosto, chochos, nublados e cansativos.

Perceber quando pensa: Pensar implica usar o que já sabemos, elaborando algo. Ocupa tempo e atenção. Lembrar não é pensar, é acessar a memória. Agir condicionadamente “passa por cima” do pensar, porque a programação já está pronta e basta algo acioná-la para funcionar, supervenientemente á razão. Tanto que se diz: quando vi, já tinha feito…  quando percebi, já tinha dito… Mas, como essa é uma função mental, dá-nos a falsa impressão de que estamos pensando, ou seja, elaborando idéias e fazendo escolhas.

Nota importante: É preciso destacar que sensações,

percepções, sensibilidade e sentimentos não são parte do “departamento” mente. Podem e costumam ser afetados e distorcidos pelos condicionamentos mentais, mas não são comandados por ela. É comum sentirmos algo e negarmos isso, porque “a cabeça fala” outra coisa, até oposta. O que prova a independência dessas funções e mostra que os condicionamentos estão funcionando aparte ao que sentimos, sem percebermos isso.

Podemos dizer: sinto, logo existo!  Esse sentir que caracteriza o Espírito, sob a forma de percepções, sensações, sensibilidade e sentimentos, não pode ser afetado por influências astrais. Mas a mente sim, ela é constantemente influenciada por pensamentos de encarnados e desencarnados, porque nós Espíritos nos conectamos pelas afinidades, e esse contato se faz mentalmente, incluindo a mediunidade.

Pensamento funcional: O pensamento funcional

pode reeducar a mente. Ele acontece quando pensamos no que estamos fazendo, acompanhando, seu transcorrer,

observando detalhes, aprimorando idéias, noções e práticas.

Vou ler, por exemplo. O pensamento funcional está em ir raciocinando e analisando o que está escrito. Mas se começo a lembrar e remoer, sem escolher isso e de forma dominadora, o que alguém me disse, ou como é que fui esquecer aquele compromisso, ou devo estar doente, ou… posso me considerar escravo/a da mente. Da minha própria mente condicionada e mal usada, devido a minha ignorância sobre como ela funciona.

“Pensar”, melhor dizendo, deixar-se ficar lembrando de coisas desnecessárias no momento, perseguindo-se com ordens e censuras, em qualquer hora, sem motivo específico e até atrapalhando as atividades e a saúde, é estar escravo da mente. É aceitar que condicionamentos, criados por algum motivo, mandem e determinem nossa vida, que nesse caso, é um verdadeiro inferno!

Coisa de Espíritos da terceira ordem…

Trazer para o consciente: Apesar disso, todos estamos capacitados para usar bem a mente, pondo-a a nosso favor, “ajudando-nos” a viver melhor e com mais discernimento das coisas. Afinal, é para isso que ela foi constituída… Nesse caso, é preciso observar se estamos agindo mecanicamente ou estamos, conscientemente, elaborando o que queremos, a partir do que sentimos.

Tanto que em alguns aspectos da vida não há condicionamento e podemos distinguir isso, porque em relação a eles sempre paramos para perceber nosso íntimo e pensar como queremos agir. Também, quando nos cansamos verdadeiramente de algo que nos prejudica, somos capazes de dar um basta definitivo, retomar o próprio comando e mudar a conduta.

Mas será preciso sempre chegarmos a esse ponto, após muita dor e desgosto? Ou podemos observar, agora, alguma forma de ser que sempre dá errado, examinar os condicionamentos de idéias que a determinam, e começar o processo de reversão disso, usando o pensamento funcional?

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