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“Nosso planeta tem sido uma arena de lutas, onde nos enfrentamos através de mágoas e vinganças… disso deriva uma espécie de caos, cujas causas estão na inexistência de comportamentos elevados e atitudes fraternais e dignas. Reencarnamos debilitados pelos sentimentos deprimentes que cultivamos, por nos mantermos mentalmente vulneráveis, pela fixação em idéias desajustadas; as mesmas que nos aproximam de nossos desafetos. E poucas vezes lembramos da terapia do perdão e do auto-entendimento, mas se a usassemos…”

As corretas observações acima, tem sido uma constante nos meios espíritas, não só para descrição de como vivemos mas, sobretudo, para uma insana busca de alertar e corrigir, visando condutas mais responsáveis e menos sofrimento.

Mas se visa tão bom resultado, por que é uma busca insana?

Por duas razões: A primeira é: como fazer isso? E a segunda é: não tem bom senso, porque  aponta fatos, relata consequências e como remediá-las, mas não ensina e nem sugere uma forma aceitável e científica de ser, e muito menos estabelece um processo de modificação, coerente com as possibilidades de cada um, e paulatino.

Note-se que nessa forma tradicional de cobranças e exigências, o medo e uma certa ameaça velada, são historicamente mantidos como didática, embora seja apregoado que se trabalha pela libertação e pela felicidade.

Como posso modificar algo que não vejo? Como posso ver o que não sinto? Como posso querer mudar o que me parece certo?

O cerne da insanidade está no fato dela ser fruto da ignorância sobre as individualidades que somos, imaginando, por um lado, que tudo serve para todos, e por outro, que seja possível uma pessoa mudar sua conduta, só porque regras morais lhe dizem que deve, ou então será punida por Deus. É a tal bobagem de que Jesus verte lágrimas de sangue quando erramos. Mesmo entre espíritas!

A confusão conceitual tem por base um sincretismo impossível entre as normas religiosas -que estabelecem o certo e o errado e conclamam as pessoas a serem certas para não sofrerem sansões divinas-  e os Princípios do Espiritismo, que propõem o entendimento de como funcionam as leis universais, para irmos encontrando formas mais felizes de pensar e ser; inexistem julgamentos divinos e castigos, mas apenas consequências naturais, intrínsecas ao modo de pensar, ou seja, um processo educativo justo e específico à natureza e ao grau evolutivo de cada um.

Agir por temor e obrigatoriamente forçar-se a ser como querem, iludir-se de que conhecimento é ação, depreciar-se e punir-se pelos fracassos, fingir superioridade, fixar-se em formalidades e rigores como sendo boa moral… não combinam com a libertação pela verdade que Jesus

ensinou e o Espiritismo avalizou.

Saber que somos frágeis moralmente, que nos magoamos, que queremos nos impor, que não mantemos decisões e posturas elevadas …  e sermos cobrados da superação disso ou estaremos punidos pela continuação do sofrimento, não esclarece o porque dessas coisas acontecerem e nem nos abre portas para trabalharmos esses equívocos. Mas cria a necessidade de nos melhorarmos e leva ao desgosto quando não conseguimos; e também leva à comparação invejosa com os outros, ao orgulho, à depressão, ao rancor, às perturbações emocionais e espirituais, às traições, ao auto-abandono, à hipocrisia… que algum dia, depois, teremos que reconhecer, aceitar, entender, trabalhar e transformar. Uma espécie de desvio, bem mais longo e difícil, para se chegar ao mesmo objetivo.

Certamente o Espiritismo não é um passe de mágica e nem um passaporte para a felicidade. Mas quando seus Princípios são entendidos, e de preferência desde a infância, um diferencial se estabelece nos processos mentais e pode facilitar posturas mais reais, naturais e justas consigo mesmo. Nada de perseguir modelos e padrões, mas ser si mesmo, dando-se valor; tendo prazer em reconhecer pontos frágeis e encontrar caminhos para fortalecê-los. Isso chama-se evolução consciente.

Religiosa e socialmente temos sido condicionados a nos sentir culpados e obrigados a condutas perfeitas. Mas essa é uma ilusão até maldosa, porque nos pede o impossível. Aliás, impossível para todos que já viveram na Terra e para os desencarnados ligados a ela.

A questão, do ponto de vista espiritual, está na reencarnação, que trouxe muitos Espíritos com algum discernimento mais desenvolvido, em relação ao funcionamento da Vida, mesmo que cada um tenha percebido isso sob a possível ótica do seu tempo. Dos historicamente conhecidos, alguns gigantes foram Sócrates, Lao Tsé, Buda, Krishna, Jesus, grandes inspiradores e faróis para a humanidade. E muitos outros, não tão renomados e até ilustres desconhecidos, encarnados e desencarnados, estiveram e estarão nos alertando e buscando ensinar, porque quem está á frente sente necessidade de dar a mão aos que vem atrás, evolutivamente.

No entanto, ninguém pode chegar a um destino distante, sem caminhar… O que significa que os apontamentos e instruções desses grandes luminares não

pode se tornar uma chibata a nos empurrar, custe o que custar, para uma situação evolutiva melhor. E isso, simplesmente porque o processo evolutivo é pessoal, exclusivo e intransferível.

Cada Espírito, em cada época, pode ou não pode entender lições de Vida, consegue ou não consegue penetrar em certas noções libertadoras. E não há como forçar, sem que a mentira e a hipocrisia se instalem, como recurso do orgulho e do medo de ser mal visto e criticado. Muitas vezes, as cobranças e intromissões julgadoras produzem reações violentas e de isolamento. E as próprias exigências irreais em relação ás possibilidades, causam profunda dor, desânimo e agressividade.

Dor moral, sofrimento, angústia, depressão, medo e hipocrisia podem ser condições estimuladoras do crescimento pessoal, tão apregoado e desejado? Certamente que não!

Há outra vertente nesse assunto, que é a idéia da terceirização de nossa melhoria comportamental. Intrinsecamente ligada aos raciocínios já estabelecidos nesse artigo, ela se revela na noção totalmente equivocada de que Jesus, os bons Espíritos e Deus estão as nossas ordens, suprem nossas incapacidades, nos implantam fé, coragem, visão interior, autodomínio e superação das influências negativas. Para obter isso é preciso pedir e implorar. E mais, é entendido que quem não faz esse drama do coitadinho desamparado, está relegado ao mal, porque não receberá ajuda divina. Coisa impressionante!

Preces de súplicas, músicas melodramáticas, livros estimuladores da culpa e do “faz-paga”, palestras místicas e chorosas puxam a emocionalidade humana e o sentimentalismo. Isso porque trazem do inconsciente as sensações e condutas de tempos religiosos passados, onde a ignorância muitas vezes servia aos interesses sacerdotais, promovendo a obediência pelo medo e por promessas vãs, de benefícios doados pelo deus gratificado pelo sacrifício recebido. No entanto, essa forma de pensar nada tem a ver com o Espiritismo! Nada!

Entender a fixação humana na dependência -zona de conforto enganadora- pode ajudar a perceber hábitos mentais limitantes e impeditivos do desenvolvimento de potenciais progressistas e libertadores da nossa consciência.

Ou somos nós mesmos que promovemos o nosso progresso, na medida da maturação possível, ou somos títeres comandados, e nesse caso a vida seria um jogo macabro…

Receber inspirações, ser ajudado com boas idéias e até protegidos é bem diferente de fazerem por nós, de suprirem nossa ação ou de evitarem nossas necessárias experiências para aprender e discernir.

Por isso, como evoluir, superar fraquezas, ilusões,

entendimentos fragmentados e tendenciosos? Como evitar as consequências naturais desses equívocos? Como sentir-se bem consigo mesmo, ter a vida fluente e evitar desvios e más influências?

Observando-se com respeito, notando as repetições de reações e condutas, bem como os pensamentos maus, derrotistas, vingativos e obsessivos, que muitas vezes perduram durante bastante tempo.

De posse desse material valioso, sinta, no âmago de si mesmo, de que modo poderia alterar alguma dessas coisas, de uma maneira que lhe seja possível garantir a persistência.

Peça ajuda dignamente.

Mantenha-se observando os resultados, as recaídas, a preguiça, a fraqueza de vontade, as interferências… Tudo isso nos dá a medida de como temos sido e do quanto é necessário persistir, mesmo que ajustando rotas. Faça por amor e numa postura científica.

Micro resultados devem ser comemorados, numa demonstração de auto-apoio e confiança. Afinal, cada um é fruto da “vontade do Criador” e o tem, em si, três vezes: como Espírito individualizado do Princípio Espiritual e pelos dois corpos materiais derivados do Elemento Material, ambos criados por Deus, segundo o ensino dos Espíritos da codificação espírita.

A persistência amorosa e paciente traz mudanças, que sendo observadas e avaliadas, mostrarão que vale a pena investir em si mesmo, sentir-se mais firme e confiante, mais forte ante as adversidades e mais seguro de que seu “destino” está em suas mãos.

Os cobradores morais não serão mais fantasmas a nos perseguir e acabaremos por não mais ouvi-los. Temos muito mais coisas importantes a ouvir, a começar por nos ouvir, auscultando o íntimo e encontrando nele a direção dos caminhos que nos servem, para o atendimento dos nossos objetivos.

O tempo é o que cada um precisa para ganhar firmeza e auto-domínio.

Técnicas poderão ajudar, como facilitadores do auto-descobrimento.

As alegrias virão. Algumas auto realizações trarão alento e mostrarão que podemos. Sim, podemos ser senhores de nós mesmos! E todos ao nosso redor serão iluminados por essa luz, por menor que seja, emanada da satisfação pessoal.

Esse é um bom trajeto evolutivo para, em algum tempo no futuro, darmos risadas das dores fictícias, das doenças educativas, dos tormentos morais, das angústias existenciais e das fraquezas mentais próprias de Espíritos da terceira ordem da Escala espírita.

Ficar no duvidoso condicional, se eu fizer isso ou se não repetir aquilo, não leva a nada e pode criar muita ilusão, postergação e perda de felizes oportunidades advindas do observar-se nu e cru, sem “se”s.

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