Trecho de O Livro dos Médiuns, de Kardec, cap XXIII – 254
1ª- Por que não podem certos médiuns desembaraçar-se de Espíritos maus que se lhes ligam, e como é que os bons Espíritos que eles chamam não se mostram bastante poderosos para afastar os outros e se comunicar diretamente?
Resp.: Não é que falte poder ao Espírito bom; é que o médium não é bastante forte para o secundar; é que sua natureza se presta melhor a outras relações; é que seu fluido se identifica mais com o de um Espírito do que com o de outro. É isso o que dá tão grande poder aos que querem ludibriá-lo.
2ª- Parece-nos, entretanto, que há pessoas de muito mérito, de irrepreensível moralidade e que, apesar de tudo, se vêem impedidas de se comunicar com os bons Espíritos.
Resp.: É uma provação. E quem te diz que elas não trazem o coração manchado de um pouco de mal? que o orgulho não domina um pouco a aparência de bondade? Essas provas, mostram ao obsidiado a sua fraqueza, e devem fazê-lo inclinar-se para a humildade.
Haverá na Terra alguém que possa dizer-se perfeito? Ora, quem tenha todas as aparências da virtude, pode ter ainda muitos defeitos ocultos, um velho fermento de imperfeição. Assim, por exemplo, dizeis, daquele que nenhum mal pratica, que é leal em suas relações sociais: é um bravo e digno homem. Mas, sabeis, porventura, se as suas boas qualidades não são tisnadas pelo orgulho; se não há nele um fundo de egoísmo; se não é avaro, ciumento, rancoroso, maldizente e mil outras coisas que não percebeis, porque as vossas relações com ele não vos deram lugar a descobri-las?
O mais poderoso meio de combater a influência dos maus Espíritos é aproximar-se o mais possível da natureza dos bons.
3ª – A obsessão, que impede um médium de receber as comunicações que deseje, é sempre um sinal de indignidade da sua parte?
Resp.: Eu não disse que é um sinal de indignidade, mas que é um obstáculo a opor-se a certas comunicações; em remover esse obstáculo, que está nele, é ao que deve aplicar-se; sem isso, suas preces, suas súplicas nada farão…