refletindo e auto-observando

“O que fazer com os pensamentos involuntários, de caráter não edificante?”

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refletindo e auto-observando

A pergunta, feita por um amigo, despertou reflexões em duas vertentes. Esta é uma delas.

Entendo o que chama de pensamentos involuntários, como sendo modos de pensar, hábitos mentais, adquiridos no decorrer da vida, até por desatenção com o que sintonizamos mentalmente.

Por causa de alguns deles, os não edificantes, seria bom examinar a questão, não no sentido de vencê-los, porque essa postura é de guerra, e em toda guerra contra nós mesmos, acabamos feridos e piorando a situação.  Mas, examinar o assunto,  para buscar sua origem, razão de ser, e observar seu papel em nossa vida. Só assim poderemos substituí-los de forma natural, gradativa e verdadeira.

Raciocinando com os Princípios do Espiritismo, entendemos que se temos cérebro no corpo, temos no Espírito sua causa, ou seja, uma capacitação que denominamos mente. Essa estrutura, entre outras funções, tem a da memória, condição indispensável para nosso processo evolutivo.

Tudo que vai sendo muito repetido, sejam conceitos, idéias, maneiras de reagir, formas de ser, conhecimentos, emoções… vai se fixando na memória, até ficar mecanizado, condicionado. É o que se chama de hábito mental. Pode ser comparado a uma espécie de chip, cujo funcionamento, quando acionado, vem antes e superveniente à razão, ou seja, antes que examinemos a situação e façamos a escolha de como encará-la. Semelhante a um interruptor de energia elétrica, que acionado, acende ou apaga a luz, sem que tenhamos que interferir em nada.

Dizemos assim: quando vi já tinha feito… falei sem querer… Expressões que mostram reações não examinadas, não avaliadas e posicionamentos íntimos, sem escolha consciente. No entanto, são repetições costumeiras…

Alguém fez ou disse algo, a nosso favor ou contra, e imediatamente, sem observação das circunstâncias, sem sentir o que estamos sentindo, o orgulho subiu e reagimos de tal ou qual maneira. Cometemos um equívoco, e de pronto arrumamos uma desculpa, mentimos e terceirizamos a situação, sem nenhuma reflexão ou análise. Por quê? Porque há condicionamentos mentais nos guiando, fruto de acolhimento de idéias ou de escolhas feitas algum dia, e repetidas a ponto de terem se fixado na memória, de um modo que funcionam sempre que nos sintamos na mesma situação. Parece involuntário, mas demonstra falta de domínio mental sobre o que nos chega, e também, falta de posse de si mesmo.

Porem… nunca estamos na mesma situação, por mais que pareça estarmos, pois o dia e outro e nós também estamos com disposições diferentes. Então, reagir sempre do mesmo modo é viver sem contemporaneidade. Falando de outra maneira, é viver mentalmente preso, obedecendo a fórmulas prontas para pensar e ser, como um autômato; isto é, não desfrutando do sabor de cada momento e nem descobrindo, em si, novas e interessantes formas de entender, pensar e agir.

Essa capacidade de condicionamento/criar hábitos/ automatizar-se, não é ruim em si mesma, porque, por exemplo, ela é responsável por nossas funções fisiológicas involuntárias, como o batimento cardíaco ou a digestão, bem como, sem ela ninguém poderia dirigir um carro, avião, etc

O que atrapalha e limita, é nos deixarmos ficar “no automático” em tudo; e isso acontece sem percebermos, porque economiza energias mentais para pensar e escolher, e também facilita, ilusoriamente, a vida.

Habituar-se/condicionar-se a escovar os dentes é bom, mas sentir-se humilhado cada vez que alguém chama a sua atenção por algo, justa ou injustamente, é ruim. Habituar-se a alguma ocupação mental sadia, enquanto espera em filas, é bom. Habituar-se a estudar, pelo menos alguns minutos, todo dia, é bom. Reagir de uma certa maneira, a mesma, toda vez que algo parecido com….. acontece, é ruim, porque cada momento é diferente do outro e discernir como encará-lo é o que se chama de bom senso. Comer sempre a mesma coisa é ruim, porque implica em insatisfação, quando isso não é possível. Acostumar-se a ter que ser sempre simpático e cordial é ruim, porque desenvolve a hipocrisia. Fazer sempre o mesmo trajeto, por ser conhecido, sejam caminhos, reações emocionais ou formas de entender, é ruim porque impede que conheçamos outro, que poderá ser melhor ou pelo menos, ampliará nossas experiências.

No entanto: habituar-se a escovar os dentes continua sendo bom se a pessoa entende a função higiênica e preventiva que essa prática possui, mas torna-se ruim, se a pessoa condicionou-se a isso pelo medo do “motorzinho” do dentista.  Habituar-se a colaborar com os outros é muito bom, desde que não seja por medo de ser mal visto… O que mostra ser necessário examinar as motivações por trás dos costumes e condicionamentos, se queremos “tomar as rédeas” de nós mesmos.

Por isso, ocupar-se em dar atenção ao que sente e pensa, sem julgamentos, mas observando como é, porque reage assim, anotando as emoções mais constantes, examinando se costuma aceitar tudo que vem à cabeça, é muitíssimo importante para quem pretende administrar a própria vida. É um exercício de auto-conhecimento, que por menor que seja, trás benefícios. E poderá ser expandido, se a pessoa investir nele.

Deixar que os hábitos/condicionamentos mentais ideológicos nos comandem, é o que a grande maioria faz. Por isso, a vida vai ficando sem graça e rotineira, embora tenhamos tudo para fazer dela uma alegre aventura, todos os dias, apesar dos desafios, complicações e frustrações naturais.

Um pensamento não edificante, que esteja sempre em nossa mente, não pode ser extirpado. Ele foi cultivado na própria estrutura mental; não é um tumor! Foi ficando, sem percebermos, fruto de nosso modo de ser, e criando consequências naturais.

A única solução é substituí-lo, com inteligência e vontade de ser feliz!

Ao perceber, por auto-exame caridoso, que uma das nossas formas costumeiras de pensar ou reagir, está nos prejudicando, trazendo, sempre, perturbação e más consequências, a solução é escolher outro pensamento e investir nele. Esse investimento em nosso bem estar interior, implica em estarmos alertas para usá-lo, quando for o caso. Mas atenção: brigar com o pensamento antigo, condenar-se pelas recaídas ou desanimar, só piora a situação.

Modos de pensar, reações emocionais, condicionamentos… são “alimentados” pelas energias que lhes damos, entregando-lhes nossa fé, ao considerá-los bons, ou então, quando pomos atenção neles. Por isso, a melhor tática, após descobrir um que precisa ser modificado, é fazer de conta que o pensamento não veio, ou seja, não dar-lhe energia, “matá-lo de fome”. E desviar a mente para outra coisa, por mais boba que seja. – Como esse azulejo brilha!  – Qual a cor que eu mais gosto? ….

Depois que mudou o foco mental, é hora de pensar no pensamento que escolheu como substituto. Mas ele ainda não está fixado na memória, o que significa que em momentos inesperados, é provável que reajamos da maneira antiga, pois ainda é um hábito. Quando acontecer, encare como um fato natural, dentro de uma etapa transitória, e não como um fracasso.

Elogiemo-nos pelos momentos de sucesso e entendamos as dificuldades de mudança, como um processo feito em etapas, uma construção!

A sabedoria está em persistir sem autopunição, pois esta só serve para acionar mecanismos psicológicos de auto-defesa, que provocam esquecermos esse recurso da substituição, fazendo com que pareça uma tolice cansativa, firmando assim, o hábito anterior.

Boa vontade consigo mesmo, paciência e algum tempo, são suficientes para a mudança ocorrer. É sempre um ganho em favor do zelo pela própria mente, condição de viver de forma mais satisfatória e gratificante.

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