Texto do opúsculo Espiritismo e Materialismo, editado em dezembro de 1925
A fé, longe de ser a crença em certos e determinados dogmas religiosos, é o resultado dos estudos das leis naturais, livre do sentimento sectário do crente, por obediência partidária.
A fé tem sua base na inteligência daquilo que se deve crer; por isso é que se diz: para crer não basta “ver”, é preciso compreender.
Diz A. Kardec: “A fé inabalável é aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade”.
“A razão é uma faculdade superior, destinada a nos esclarecer sobre todas as coisas e que como todas as outras faculdades, desenvolve-se e aumenta-se pelo exercício”.
Assim é que bem diz Leon Denis, “que a fé não pode ser substituída pela razão e nem esta por aquela, porque ambas são inseparáveis – se consolidam e vivificam em à outra. A união de ambas alarga os horizontes do nosso pensamento, harmoniza as nossas faculdades e nos dá uma paz consoladora.”
A fé cega é o edifício construído na areia movediça de que falou Jesus. É esta a fé prescrita por todas as seitas religiosas que tem procurado anular a razão, exigindo a abdicação do mais precioso atributo do Homem: o livre-arbítrio.
O Homem é dotado de liberdade, e é pelo bom uso que ele fizer dessa liberdade que lhe vem o mérito de suas ações.
Sem a liberdade não há responsabilidade, e sem esta a criatura humana não é mais do que um joguete do trabalho das moléculas que fortuitamente se agregam no organismo, o que tiraria toda a sua responsabilidade de ação.
Embora tenazmente combatido, o livre arbítrio, por certos filósofos, ele aparece em todos os atos da vida dos povos, demonstrando assim a sua realidade.
Desembaracemo-nos de todas as ideias preconcebidas, demos o grito de liberdade a todas as consciências, façamos funcionar a razão de todos os nossos semelhantes, e veremos dentro em breve a fé se colocar em seu posto de honra – superior às ameaças do preconceito e às seduções vis da visão do ouro.”