Materialismo e espiritualismo

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desapego

Um cidadão fez voto de desapego e pobreza. Saiu Índia afora, em busca de todos os sábios, medindo na verdade o desapego de cada um. Levava apenas uma tanga no corpo e outra para troca. Estava convencido de não encontrar quem ganhasse de si em despojamento, quando soube de um velho guru, bem ao norte, aos pés do Himalaia. Vai ao encontro do velho sábio. Quando lá chegou, tristeza e decepção! Encontrou terras bem cuidadas, um palácio faustoso, muita riqueza, muita pompa. Indignado, procura pelo guru. Um velho servo lhe diz que ele está em uma ala dos magníficos jardins com seus discípulos, estudando o desapego. Como era costume da casa ter gentileza para com os hóspedes, o servo convida o andarilho para o banho, repouso e refeição, antes de se dirigir à presença do sábio. Achando tudo muito estranho, o desapegado aceita a sugestão. Toma um bom banho, lava sua tanga usada, coloca-a para secar no quarto e sai em busca do guru. Queria contestar e desmascarar aquele que julgava um impostor, pois em sua concepção, desapego não combinava com posses. Aproxima-se do grupo, que ouve embevecido as palavras do mestre e fica ruminando um ardil para atacar o guru, quando, correndo feito um doido, chega um dos serviçais gritando: – Mestre, mestre, o palácio está pegando fogo, um incêndio tomou conta de tudo. O senhor está perdendo uma fortuna! O sábio, impassível, continua sua prédica. O desapegado viajante das duas tangas, dá um salto e sai em desabalada carreira, gritando: – Minha tanga, minha tanga, o fogo está destruindo minha tanga…

Um dos objetivos principais do Espiritismo, segundo Kardec, é combater o materialismo, difundindo as verdades espirituais, a realidade do espírito imortal.

Para o materialista, numa visão geral, a vida se resume na posse de coisas, no cultivo de prazeres, na valorização da beleza física, no ter cada vez mais, muitas vezes, levando essa forma de pensar e sentir, até às últimas consequências.

No entanto, existem pessoas que se dizem materialistas e ateias, mas que possuem valores inatos e mostram, com seus exemplos de vida, um comportamento superior a de muitos que se dizem espiritualistas. Pensam assim, por não se satisfazerem com aquilo que as religiões oferecem e, na falta de respostas para suas indagações íntimas, escolhem o caminho da negação.

Essa condição é temporária, porque mais cedo ou mais tarde, encontrarão também as respostas que procuram, e sua consciência espiritualista, que estava dormente, se manifestará novamente, já que faz parte de sua essência como Espírito imortal.

Por outro lado, observa-se, com bastante frequência, pessoas religiosas que têm um comportamento que se identifica muito mais com a visão materialista do que propriamente com a espiritualista, pelo fato de existirem religiões que, deixando de lado sua essência moral e espiritual, valorizam mais as práticas exteriores, os rituais, os templos suntuosos, em suma, tudo aquilo que impressiona os sentidos, deixando em segundo plano o que fala às almas, o que toca os corações. E as noções que dão com relação à vida após a morte do corpo, são muito vagas e imprecisas, e não dão ao crente aquela certeza inabalável da imortalidade da alma e das consequências naturais dos seus atos; certeza essa que o faria repensar suas atitudes.

O Espiritismo, se for estudado, assimilado e vivenciado em profundidade, em todos os seus aspectos, nos dá condições de entendermos o significado real das vidas materiais em nossa constante evolução espiritual.

Quando tivermos essa consciência integral vivida e sentida, saberemos, verdadeiramente, da efemeridade da vida física, da transitoriedade das situações, da presunção da posse de bens materiais. Poderemos até possuí-los, mas não seremos possuídos por eles. Feliz com eles, feliz sem eles! A perda desses bens não trará abalo maior.

Com o Espiritismo estudado em profundidade, vemos com clareza o objetivo primordial de estarmos encarnados, que é a evolução.  As situações que vivenciamos, a posse de bens, ou a falta deles; a saúde ou a doença; o poder ou a subalternidade; as dificuldades ou facilidades, tudo enfim, que faz parte das nossas experiências de vida, além de serem consequências naturais de escolhas que fizemos no passado recente ou remoto, e serem também condições do mundo em que vivemos, são meios de trabalharmos o nosso progresso espiritual, e não o fim em si mesmos. A forma como encaminhamos, na vida presente, essas experiências necessárias à evolução do Espírito, determinará o maior ou menor progresso conquistado e, como consequência, maior ou menor felicidade futura.

É assim que, passo a passo, de encarnação em encarnação, vamos vencendo os degraus que nos levam àquilo que Jesus chamava de o reino de Deus dentro de nós, que é o estado de Espírito elevado, o Espírito que venceu a si mesmo, que descobriu pelo seu esforço e vontade, o sentido da vida, que por tanto tempo havia buscado nas coisas efêmeras.

Todos nós já vivemos esse equívoco e, ainda hoje, mesmo com as luzes do Espiritismo, muitas vezes nos deixamos levar pelos resquícios dessa ilusão materialista, porque são condicionamentos enraizados profundamente em nós, Espíritos milenares.

Temos a eternidade pela frente. Se não podemos dar grandes saltos evolutivos, podemos acelerar um pouco mais a nossa caminhada, se quisermos, se nos empenharmos, colocando nossa vontade a serviço de nós mesmos, do anseio de crescimento espiritual que já brotou em nossas mentes e em nossos corações.

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