– Sobrou para mim de novo! Sempre sobra! Todo mundo faz as coisas e “dá no pé” e a tonta aqui, é que “paga o pato”! “Tô cheia” disso…
Esses são os lamentos de Móia, apelido dado por um dos irmãos mais novos. Eles fizeram uma bagunça na sala e a mãe deu bronca nela, por ser a mais velha, embora com nove anos.
– Sobrou pra mim de novo! Sempre sobra! Todo mundo faz as coisas e “dá no pé” e a tonta aqui, é que “paga o pato”. “Tô cheia” disso…
Esses são os lamentos de Móia no colégio, aos dezesseis anos, após a turma ter “aprontado” com a professora de matemática, mas só ela foi chamada pela diretoria.
– Sobrou pra mim …
Esses são os lamentos de Móia, mãe de duas “pestinhas”, aos trinta e dois anos, diante do vaso quebrado e da terra espalhada por toda a sala, levada pelos pezinhos sapecas, até no sofá
Exausta da labuta do dia, à noite vendo TV, ela ouve na fala de um personagem da novela: Sua vida acontece conforme você pensa. Acha que é vítima? Por isso sempre sobra pra você!
Ela se impressiona!
É como se descrevessem sua vida…
A frase mexe tanto com ela, que Móia faz até um propósito de pensar melhor no assunto, porque a informação lhe chega como verdadeira.
– É verdade …
A novela acabou, os filhos precisam dormir.
Móia retoma seus afazeres e o propósito de examinar melhor aquela ideia some, simplesmente some de sua cabeça, acostumada, condicionada a pensar-se vítima e sofredora.
– Sobrou pra mim …
São os lamentos de Móia, cinquenta e quatro anos, após ser assaltada na esquina de casa, só porque foi comprar pão!
-Tanta gente na rua e tinha que ser comigo!!!
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