O Julgamento

Ato 2 – O Julgamento

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O Julgamento

Verter Geister – Ricardo Luiz Capuano
(Sequência do JNC – 241 de junho de 2017 que editou, em comemoração aos 21 anos, o primeiro ato dessa peça teatral, comédia, na qual Zé do Povo está em julgamento, sem saber porquê. Deus diz que sua pena será triplicada, e ele desmaia)

Abrem-se as cortinas.

Zé do Povo está sentado em uma cadeira tomando água e há uma enfermeira bonita, de roupa curta e asas. Ela está cuidando dele, que a trata com assanhamento.

Promotor se aproxima com cara de bravo: – Pelo jeito, o senhor está melhor! A enfermeira sai de cena, mandando beijinhos. Zé do Povo começa a seguí-la. Barulho de trovão.

Zé do Povo volta murxinho. – Muito bo… digo, muito bom o atendimento médico, aqui. Acho até que estou precisando me internar!

Deus: – Você esquece que eu sei de tudo o que se passa na sua mente e no seu coração! Então, vamos parar de gracinhas e voltar ao julgamento!

Promotor: – Muito bem! Por onde vamos começar? Diga seu Zé do Povo: começamos por suas relações com seus familiares; ex- esposa (Zé do Povo vai fazendo careta), seu pai, sua mãe, seus irmãos… Ou vamos falar sobre seu trabalho (Zé do Povo faz gesto de enforcado), sua relação com seus colegas de trabalho (Zé do Povo faz careta), com os clientes… Ou podemos falar de uma coisa mais simples: dos seus hábitos diários?

Zé do Povo faz um sorriso: – Agora sim! Eu não bebo álcool… (sussurra: pelo menos não muito!) Não fumo! Então devo começar bem! (sussurra: ou pelo menos vou ganhamdo tempo!)

Promotor: – Muito bem! Então comecemos por aí! O que o senhor comia no café, almoço e jantar ?

Zé do Povo:- Bem, eu sempre fui muito simples… de manhã comia um pãozinho com margarina e bebia uma xícara de cafécomleite

Deus, fazendo gesto negativo: – rum rum!!!

Zé do Povo: – Bem… eu comia dois pãezinhos com mortadela e duas xícaras de café.

Deus fazendo gesto negativo: – Rum rum rum rum!!!

Zé do Povo: – Tá bom!!!! Eu comia duas tapiocas com queijo, dois pãezinhos com mortadela, um copo de suco de laranja, uma xícara de achocolatado e duas xícaras e café! Pronto. Falei!

Promotor: – Bem… até que para tudo isso, você está bem esbelto!

Zé do Povo mostra a língua e depois faz pose de modelo.

Promotor: – Agora vamos ver o que você comia no almoço e na janta.

Zé do Povo: – Já que não adianta mentir, vou falar logo: no almoço eu comia, nos últimos três meses, por causa da recomendação do médico (sussurando: por falta de dinheiro), arroz, feijão, farinha e zoião.

Deus: – Zoião?

Zé do Povo: – Zoião estalado, olhão, proteína de pobre, ex pintinho, quase filhote e galinha. E de vez em quando, peito de frango, linguiça e quando sobrava um dinheirinho (sussurando: quase nunca…), um belo bife!

Deus: – Já entendi… Mas pelo que lembro, todo domingo você fazia um churrasquinho na laje e chamava umas meninas pra beber!

Zé do Povo: – A Zuleide e a Marlineide… (fazendo gesto de corpo violão) que são minhas amigas.

Deus: – Mas isso não vem ao caso… Bem … Vamos por partes… (olha para o público com gesto de picar carne e pisca)

Promotor: – Muito bem! Comecemos pelos peitos!

Zé do Povo puxa a camisa e olha para seu peito.

Promotor puxa do bolso uma máquina de calcular antiga: – Você comia peito de frango, em média três vezes por semana. Vamos ver… (faz cálculos)… Um mês tem, geralmente, quatro semanas; um ano tem doze meses… são cento e quarenta e quatro frangos por ano… Levando em consideração o tempo em que você era criança e não tinha consciência das coisas…Vamos dizer que são uns trinta anos. Muito bem..(faz cálculos). Muito bem… São, mais ou menos, quatro mil e trezentos e vinte e um frangos, que você matou!

Zé do Povo em gesto de revolta: – Calúnia! Mentira! Eu nunca em minha vida, matei um frango sequer! Deus me livre de matar um bichinho desses! (faz o sinal da cruz) Justo eu que gosto tanto dos bichos ! Dou comida até pra um gato de rua que vem xeretar na minha lage! Nunca que ia matar um frango! (faz careta e conta nos dedos) Ainda mais quatro mil trezentos e vinte!

Promotor: – E um… quatro mil trezentos e vinte e um! Não esquecemos esse “um”!

Zé do Povo: – Mas, esse unzinho faz diferença nesses quatro mil e trocentos?

Promotor: – Se esse um fosse você… com certeza faria diferença estar morto ou estar vivo! ( risadas)

Zé do Povo: – Não importa! Eu nunca matei um frango, na minha vida! Promotor abana a cabeça negativamente.

Deus: – Deixa eu te explicar melhor! Eu sei… (pisca para o público) afinal sou deus e sei de tudo. Sei que você nunca pegou um frango e esganou, tirando a vida dele!

Zé do Povo: – Ufa! Ainda bem que ele sabe! Afinal, ele sabe de tudo!

Deus: – Mas … de onde você acha que vinham, os peitos de frango que você comia? O próprio nome já diz: peito de…(e faz gesto para o público responder). Peito de….

Zé do Povo e o público respondem: – Frango!!! Deus e o Promotor batem palma!

Deus: – Então Zé… De onde vem o peito de frango? Zé do Povo pensativo responde: – Do … mercado! (e cochicha para o público: no mercadinho do seu Manuel, tem uma oferta boas! Tá baratinho!)

Deus e o Promotor batem na testa! – Dããmmm

Deus: – Não Zé!

Zé do Povo: – Do açougue…

Deus faz cara de bravo. Trovões!

Deus: – Zé … O peito de frango vem do… FRANGO!!!

Zé do Povo: – Mas isso eu sabia! (com cara de descaso)

Deus: – Então Zé, para o peito do frango chegar até seu prato, ele, O FRANGO, precisa estar morto!

Zé do Povo: – Haa… Mas aí não é minha culpa! Eu já encontrei o defunto sem vida! Não fui eu que matei!

Deus: – Sim, Zé… mas se você não comesse o frango (com asco) já morto, e se não comprasse, não haveria quem matasse e vendesse. Não é verdade??

Zé do Povo: – Pensando assim, é verdade…! (faz gesto pensativo) Mas eu não tenho culpa… eu não sabia! Ou melhor, eu nunca tinha parado pra pensar nisso

Deus: – Pois é Zé… Vamos fazer uma comparação: Você conhece a lei da gravidade?

Zé do Povo: – Na escola aprendi que tem a ver com uma maçã que cai… E que se a gravidade não existisse, tudo ficaria sem peso, flutuando, igual nos filmes de espaçonaves.

Deus: – Pois é Zé… Você sabia que o que mantem a Lua no céu, sem cair, é essa lei da gravidade? …

Continua no próximo mês…

Quem quiser representar essa peça, fale conosco ou diretamente com o dr. Ricardo Capuano (2097-5643 – Clinica Veterinária)

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