“(…) a maioria de nós pensa em termos relativos ao tempo; pensamos que a ordem interior só pode aparecer com a ajuda do tempo, que a tranquilidade tem de ser formada a pouco e pouco, somando-se cada dia alguma coisa. O tempo não pode trazer essa ordem e paz interiores e, portanto, uma das coisas importantes que temos de compreender, é de que maneira fazer parar o tempo, de modo que não pensemos mais em termos de gradualidade; essa é uma imensa tarefa, significando que não há amanhã, para termos paz. Temos de achar a ordem nesse instante; não há outro momento.”
(KRISHNAMURTI. Como viver neste mundo. Conflitos humanos. 2 edição. Rio de Janeiro: Instituição Cultural Krishnamurti. 1976)
A partir da análise de Krishnamurti, cabe-nos indagar: Por que temos de viver em desordem? Por que temos de ter conflitos todos os dias? Qual o caminho para encontrarmos a ordem e a paz interiores? Dependemos do tempo para isso?
Sem muita análise, surgem duas hipóteses como respostas: afirmar que isso é inevitável e não pode ser alterado, ou então dizer que não sabemos a resposta, e esperamos que alguém nos mostre como devemos olhar para tal questão.
Ao afirmamos que é inevitável viver em conflito e que não é possível ter ordem e paz interiores hoje, mas que com o tempo tudo se resolve, utilizamos de uma maneira de pensar bastante acomodada, conservadora e nem um pouco renovadora/transformadora. E se nosso pensamento tem esse teor, criamos fluidicamente essa situação em nós mesmos, em “nosso mundo”, e assim teremos uma vida de expectativa e frustração. Pensar e manter o pensamento é criar…
Já se alguém nos mostra como olhar essa desordem, exclusivamente sob a sua visão e entendimento sobre as coisas, isso significa que permitimos e queremos descobrir a natureza dela segundo essa outra pessoa e nenhum descobrimento próprio e sobre si próprio será feito; ainda que aprendamos algumas coisas, mas sob o prisma alheio.
Analisando melhor, o que seria mais lógico?
Seria ouvir-se, sentir-se e entender-se hoje. Mesmo que os outros colaborem, essa é uma tarefa pessoal, única e diferente das demais.
Diante dessa constatação, fica sendo preciso ir além do convencional e ter uma boa disposição de raciocínio; também um inconformismo, que nos leva a perceber como somos e o que pode ser feito para retornar à ordem e à paz dentro de nós mesmos, no momento em que desequilibram.
A claridade para “olhar” dessa maneira, aparecerá, não por esperarmos o tempo passar, mas por nos entregamos agora, a essa postura, olhando a situação de maneira confiante, sem medo; e com certeza de podermos estabelecer a paz interior, através da vontade posta em ação.