Trechos do livro A educação e o significado da vida, de J.Krishnamurti
Ed. Cultrix, 14ª-ed. 1994 – cap II Educação correta
Escolhas de Cristina Sarraf
“O Homem ignorante não é o sem instrução, mas aquele que não conhece a si mesmo; e insensato é o Homem intelectualmente culto, ao crer que os livros, o saber e a autoridade lhe podem dar a compreensão.
A compreensão só pode vir com o autoconhecimeno que é o conhecimento da totalidade do nosso processo psicológico. Assim, a educação, no sentido genuíno, é a compreensão de si mesmo, pelo indivíduo, porque é dentro de cada um de nós que se concentra a totalidade da existência.
O que atualmente chamamos de educação, é um processo consistente em acumular informações e conhecimentos tirados dos livros, e isso qualquer um que saiba ler pode conseguir. Uma educação desta espécie oferece-nos uma forma sutil de fuga de nós mesmos e, como todas as fugas, cria, inevitavelmente, sofrimentos cada vez maiores.
O conflito e a confusão nascem das nossas relações incorretas com pessoas, coisas e idéias e, enquanto não compreendermos e modificarmos essas relações, o mero aprender, a acumulação de fatos, a aquisição de habilidades diversas, só nos podem abismar no caos e na destruição.
De acodo com a organização da sociedade atual, mandamos nosso filhos à escola para que aprendam uma técnica, com a qual possam um dia ganhar a vida. Queremos, antes de tudo, fazer do nosso filho um especialista, crendo assim lhe garantirmos uma segura situação econômica. Mas o cultivo de uma técnica, habilita-nos a compreender a nós mesmos?
É, evidentemente, necessário saber ler e escrever, aprender alguma profissão, mas a técnica nos dará a capacidade de compreender a vida? Ora, sem dúvida, a técnica é coisa secundária; e se a técnica é a única coisa pela qual estamos lutando, nesse caso estamos negando o aspecto mais importante da vida.
A vida é dor, alegria, beleza, fealdade, amor… e quando a compreendemos globalmente, em toda a sua variedade, essa compreensão cria sua própria técnica. Mas o inverso não é exato: a técnica nunca produzirá a compreensão criadora.” …
… “Na educação correta está subentendido o cultivo da liberdade e da inteligência, o qual não é possível se existe qualquer forma de coação/constrangimento, com os temores que desperta.
Em ultima análise, ao educador cumpre ajudar o discípulo a compreender as complexidades do seu ser integral. Exigir-lhe que reprima uma parte da sua natureza, em benefício de uma outra parte qualquer, é criar nele um conflito interminável de que resultam antagonismos sociais. É a inteligênia que produz a ordem e não a disciplina.
O ajustamento e a obediência não cabem na educação correta.
Não existindo afeição e respeito mútuo, é impossível a cooperação entre mestre e discípulo.
… A disciplina é um método fácil de controlar uma criança, mas não conduz à compreensão dos problemas da existência.
…Liberdade não significa facilidade de satisfação egoísta ou o abolimento da consideração para com outrem.
… A educação correta consiste em compreender a criança como é, sem lhe impor nenhum ideal relativo ao que pensamos que ele “deveria ser”. Enquadrá-la em um ideal é induzí-la a adaptar-se, o que gera temor e suscita na criança um conflito constante entre o que ela é e o que “deveria ser”.
E todos os conflitos interiores têm suas manifestações exteriores na sociedade. “…
Sugestão: juntar essas reflexões ao que aprendemos com o Espiritismo, objetivando repensar e reciclar conceitos e ações educacionais, sejam domésticos, escolares e espíritas, para todas as idades.
1 Comments
Deixe uma resposta →