Capítulo XVIII – itens 8, 9, 10 e 11
- – Contudo, uma troca tão radical como esta que se elabora, não pode se cumprir sem comoção. Há uma inevitável luta entre as ideias. Desse conflito, nascerão forçosamente, perturbações temporárias até que o terreno esteja limpo e o equilíbrio restabelecido. Assim, da luta de ideias surgirão os graves acontecimentos anunciados, e não de cataclismos ou catástrofes puramente materiais. Os cataclismos gerais eram a consequências do estado de formação da Terra, atualmente não se agitam mais as entranhas do globo, mas as da humanidade.
- – A humanidade é um ser coletivo onde se operam as mesmas revoluções morais que ocorrem nos indivíduos, com a diferença de que com estes, ocorrem de ano em ano, e naquela de século em século. Nessas evoluções que se seguem através dos tempos, vemos a vida das diversas raças, marcada por períodos que dão, a cada época uma fisionomia particular.Junto aos movimentos parciais, existe um movimento geral que impulsiona a humanidade inteira. Mas o progresso de cada parte do conjunto, é relativo ao seu grau de adiantamento. Como uma família, com vários filhos cujo caçula está no berço e o mais velho tem, por exemplo, dez anos. Uma década depois, o primogênito terá vinte anos e será homem, enquanto o menor terá dez anos e, mesmo amadurecido, ainda será criança, mas, a seu tempo, será também adulto. Assim ocorre nas diferentes partes da humanidade: as atrasadas avançam, mas não podem dar um salto para alcançar o nível das adiantadas.
- – A humanidade, chegada ao período adulto, tem novas necessidades, aspirações mais amplas e elevadas; compreende o vazio das ideias com as quais foi criada, a insuficiência de suas instituições, para sua felicidade; não encontra mais nessas condições as satisfações legítimas para as quais se sente chamada. Por isso, sai das fraldas e se lança, tomada por irresistível força, a terrenos desconhecidos, em busca de novos e mais amplos horizontes.É nesse preciso momento, quando se encontra muito limitada na esfera material, que a vida intelectual transborda e o sentimento da espiritualidade desabrocha; que homens se dizendo filósofos, pretendem preencher o vazio com doutrinas do neantismo e materialismo! Estranha aberração! Esses homens, que pretendem impulsionar a humanidade, se esforçam em circunscrevê-la nos limites da matéria, da qual almeja escapar; ocultam a perspectiva da vida infinita e lhe dizem, mostrando o túmulo:Nec plus ultra!
- – A marcha progressiva da humanidade se opera de duas maneiras, como temos dito: uma gradual, lenta e imperceptível, considerando as épocas próximas, representada por melhoramentos nos costumes, nas leis, nos hábitos, apenas evidentes com o tempo, como as mudanças na superfície do planeta, causadas pelas correntes d’água na superfície do globo; a outra, por movimentos relativamente bruscos, rápidos, como os de uma torrente, que, rompendo seus diques, transpõe, em alguns anos, o espaço que levaria séculos para percorrer. Trata-se de um cataclismo moral, que devora em alguns instantes as instituições do passado, sucedido por uma/antecedendo uma nova ordem que se estabelece aos poucos, na medida que a calma se restabelece e se torna definitiva.
A quem viver bastante, para vivenciar as duas versões da nova fase, parecerá que um mundo novo saiu das ruínas do velho. O caráter, os costumes, os hábitos, tudo mudou. Deve-se a que,de fato, surgiram homens novos, ou melhor, regenerados. As ideias levadas pela geração que se extingue, deram lugar a ideias novas da geração que surge.
A humanidade chegou a um destes períodos de transformação ou, se preferirem, de crescimento moral, que é vindo à humanidade. Da adolescência passa à idade adulta. O passado não satisfaz mais às suas novas aspirações e novas necessidades. Já não pode mais ser conduzida pelos mesmos meios, não se prende mais a ilusões e prodígios; amadurecida, sua razão pede alimentos mais nutritivos. Diante de um presente efêmero, sente que seu destino é mais vasto e a vida corporal é muito restrita para compreendê-lo por inteiro. Por isso olha para o passado e o futuro, a fim de descobrir o mistério de sua existência e adquirir uma consoladora confiança.
———————————————————————————————
Todos os textos deste Jornal foram traduzidos da 4-a edição francesa de A Gênese, de Allan Kardec. A sugestão é para que seja feita uma comparação cuidadosa, verificando e anotando as diferenças que você irá encontrar no o livro A Gênese que possui. A seguir analise qual a influência e quais as consequências resultantes dessas adulterações, para o entendimento dos espíritas, e para o seu, em particular. Sobretudo no que se refere a ter o Espiritismo como bússola para compreender a Vida, e desenvolver sua autonomia mental e emocional.