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Santa Ignorância

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Aquela ideia a perseguia havia bom tempo, mas, sem um motivo definido se recusava. No entanto, sua consciência a alertava de que precisava. Precisava de dinheiro para compensar certos contratempos. Não achava justo pedir àquela com quem falava, que não mais pertencia a este mundo, algo tão material. Não combinava certamente! Mas não havia outra saída, e a necessidade era imperiosa. Até que, numa certa ocasião, premida, muniu-se de coragem.

E disse, contrafeita, timidamente, receosa, que, apesar de saber que aquele seu gesto era feio, repulsivo e que não tinha direito de usufruir alguma vantagem, muito necessitava jogar, pois era a maneira mais simples de ganhar dinheiro, mas para isso era necessário ajuda superior, daí pedir-lhe. O jogo mais simples e prático que conhecia, honesto, era o jogo do bicho. Queria apenas saber em que milhar jogar. A seco, como se diz. Na cabeça!

Ficaria muito contente e grata por toda a vida. Naquela mesma noite, em sonho, viu um milhar. Acordou imediatamente e o anotou. Juntou todo o dinheiro restante que pôde e esperou ansiosa o resultado, que sairia logo no fim as tarde. Pagaria as dívidas e não mais precisaria se humilhar. Tinha certeza absoluta de que ganharia, pois para quem pediu ajuda, nunca sequer pensaria em brincar com algo tão sério.

Pelos seus cálculos, sobraria ainda algum que lhe permitiria comprar aquele maravilhoso vestido e passar alguns dias de papo pro ar, numa praia de Santos. À tardinha, dirigiu-se ao bicheiro e quase teve um ataque ao saber do resultado. Nem mesmo um dos cinco milhares era aquele em que havia apostado! Custou a acreditar… Agora, sim, estava completa e irremediavelmente sem um tostão furado.

Claro, começou a sentir raiva, ódio mesmo. Mas pensando bem, concluiu que ela havia errado. Nunca poderia ter feito aquilo. De fato cometera um pecado. Apelar para o alto para coisa tão mesquinha não tinha sentido algum. Ainda se fosse para uma doença, vá lá. De algum modo tentaria esclarecer o fato, e a maneira mais fácil seria fazer a indagação a quem pedira o auxílio, com a mesma devoção.

A resposta que esperava veio à noite, em sonho. Dizia que ela tivesse paciência e desculpasse também. Milhar já sabia o que era, mas que bicho ainda não havia escolhido!

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