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Reciclar e contemporanizar pensamentos

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(Texto originalmente editado em março de 2000, neste jornal, com o título Se Deus quiser…)

Contemporanizar, tornar contemporâneos, atualizar, reciclar os pensamentos, é uma das ideias mais úteis e geniais a que se pode ter acesso. Como é necessário este cuidado de rever o conteúdo mental, formado por ideias, conceitos e pensamentos que, no final das contas, estão moldando e determinando a nossa vida!

E aí vai o convite: que tal abrir a gaveta das ideias estabelecidas para sempre e fazer uma revisão sincera e lúcida, verificando quais delas permanecem coerentes com nosso íntimo e evoluíram, com a nossa atual forma de ver a vida?

Fatos desagradáveis, sentimentos dolorosos, aquela ideia de que o passado foi maravilhoso e hoje tudo é ruim, por que conservá-los como se fossem pedras preciosas que devem ser protegidas e guardadas, se só estão criando e mantendo um ambiente íntimo poluído e maléfico?

Sim, porque junto de um pensamento atualizadíssimo, como por exemplo o de que em nada há coincidências, está um outro embolorado e mofado, tal como o de que após aquela decepção não devo amar a mais ninguém…

Contemporanizar as concepções é limpar a mente do lixo acumulado e dar-se a oportunidade de reciclar o que pensa e como pensa a respeito de tudo, hoje, para criar um mínimo de coerência entre o que fomos aprendendo e sendo obrigados a ver pelas lições da vida, e o que foi ficando, resguardado pelos costumes, pela sociedade e pelo que todo mundo acha que é o certo. É fazer higiene mental.

Talvez ainda não tenhamos notado, o suficiente, o quanto uma forma de pensar fixada, limita, confunde, determina e caracteriza nossos atos, sensações e sentimentos. O quanto ofusca a visão de novos aspectos da situação observada, mantendo-nos na mesma posição mental, passe o tempo que passar. Vejamos por exemplo, a antiquíssima ideia expressa por: se Deus quiser!

Se Deus quiser isto dará certo. Se Deus quiser ele ficará bom. Se Deus quiser o salário aumenta. Se Deus quiser chegarei cedo. Se Deus quiser…

É bem possível que muitos de nós utilizemos dessa frase mais por hábito do que por convicção do seu conteúdo, mesmo assim, que frasezinha confundidora e mofada hein?

Nascida há milênios antes de Cristo, na época do politeísmo, quando os Homens ignorando o funcionamento da vida e das leis físico-químico-biológicas, pensavam que os deuses comandavam a natureza e dela faziam uso conforme sua vontade e decisão, tendo o poder da vida e da morte sobre qualquer pessoa ou ser, essa ideia atravessou o tempo e permanece viva em muitas cabeças e corações. E não se pense que é parte da ideologia dos ignorantes, pois todo tipo de gente pode tê-la inserida, incrustada, embutida no âmago, distorcendo e esvaziando conceitos e entendimentos estruturados nas mais amplas e confirmadas observações e experiências.

Quando penso e digo para os outros, sobretudo para as crianças: se Deus quiser… estou mostrando o entendimento de que tudo na vida, na minha vida, depende das decisões e da vontade de Deus e, o que é um absurdo, porque implica em que haja coisas, que por melhores que sejam, Deus não quer e impede que aconteçam! Ou seja, somos comandados por cordéis invisíveis e levados para onde e da forma que esse deus quiser…

Sim! Por esse conceito, livre arbítrio é apenas uma balela, tal como respeito, consideração, iniciativa, ousadia, autonomia, futuro, independência, amor, etc, etc, etc…

Estudamos, no Espiritismo, sobre o Livre Arbítrio como lei universal mas, conservamos uma ideia arcaica, totalmente sem nexo e representativa dos tempos da ignorância, do medo e da superstição; a qual, certamente, esta imiscuída em nosso conceito espírita de Deus, impedindo que o tenhamos claramente expresso e funcionante, mesmo que exista teoricamente na cabeça, mas não está no coração, na alma, que ainda permanecem coloridos pela ideia infantil de que Deus decide os detalhes da vida de cada pessoa.

Contemporanizar uma ideia é reconhecê-la, examiná-la, verificar que já podemos ampliá-la, renová-la ou eliminá-la. Reciclar!

E começar o processo de assumir a nova feição de uma ideia antiga ou uma nova ideia. Esse processo às vezes é imediato e outras vezes requer um certo empenho, paciência e tempo, no qual vamos dizendo para nós mesmos que isto não é assim, que já penso de outra forma, posso assumir o novo pensamento sem temor, os pensamentos sou eu quem escolhe e não Deus, não perco a personalidade por mudar uma forma de pensar, mas pelo contrário, estou reforçando quem verdadeiramente sou, adequando-me às minhas próprias mudanças, progresso e aperfeiçoamento. Afinal, já não me serve e nem satisfaz, pensar daquela maneira, pois estou à frente e assumo com alegria minha renovação.

Quantas ideias e conceitos não contemporanizados estão hibridando nossos pensamentos, tornando-os tímidos, oscilantes e antiquados, embora já vejamos as coisas sob novo prisma, o qual fica apenas na teoria, não passa para a ativa, para a prática da vida, já que o lugar está ocupado por aquele pensamento mofado, grudado e conservado sem revisão. É como ter uma gaveta cheia de objetos quebrados e inúteis, impedindo que outros, novos e necessários, possam ocupar o lugar.

Examine o assunto.

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