chinelada fatal

“A chinelada fatal”

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Estava eu conversando com um senhor de idade bem avançada, em certa ocasião.

Lamentava–se ele de que nessa fase da vida, ainda precisasse trabalhar. Disse que se não fosse pela violência do pai, em sua juventude, tudo teria sido diferente.

– Que violência terrível fez seu pai, a ponto de destruir toda sua vida futura? Perguntei.

– “Quando eu tinha 10 anos, me deu uma chinelada injustamente, acusando-me de ter quebrado um vaso, que na verdade foi minha mãe quem quebrou.”

– E devem ter sido muitas chineladas e injustiças que ele fez com você! Com certeza houve muitas outras situações, e mais violentas, para ter interferido assim em sua vida!

-“Não, não houve mais nada! Mas você não percebe a gravidade do que ocorreu? Meu pai foi injusto e minha mãe foi omissa! Naquele momento prometi nunca mais esquecer aquele fato! Nunca…

Como um psicólogo havia dito, e na ocasião não acreditei, por isso tive dificuldades para me relacionar, arrumar amigos, empregos e tudo mais.

Perguntei eu: E você conversou com sua mãe sobre isso? Ou com seu pai?

-“Não… nunca conversei! Eles é que deveriam me pedir desculpas!!!

Quando perceberam que eu estava diferente, se fizeram mais carinhosos, tentando me deixar feliz. Até me levaram ao tal psicólogo…. Mas eu resisti! Resisti mesmo, e me firmei em minha decisão de não esquecer o fato.”

Condoído pelo sofrimento moral dele, eu lhe disse que ainda havia tempo de voltar atrás e… Ele nem me deixou concluir! Recusou com um gesto e disse que nada iria fazê-lo mudar. Conversamos sobre outras coisas, mas meu coração continuou “doendo” e refleti muito… Pensei comigo: Parabéns!! Sua força mental é grande! Pena tê-la usado contra si mesmo. E culpar os pais por ter tido uma vida miserável, quando na verdade, bastava conversar com eles ou mesmo aceitar o perdão que lhe pediram, em forma de carinho.

Uma encarnação como que perdida por orgulho; uma espécie de “ovóide”, vivo e falante!

Todos nós levamos essas terríveis “chineladas” injustas, todo dia praticamente, desde o nascimento. Nem por isso deixamos de viver; nem nos prendemos a elas com tal força, que se tornem guias da nossa vida.

Obviamente a chinelada é uma metáfora para coisas ruins que acontecem com todos. Mas, nunca é “Uma única chinelada fatal”! E sim um acúmulo de várias “chineladas” ou situações ruins,  que poderão ir nos restringindo e nos impedindo de ter  alegrias, descontração e liberdade.

Porém, para viver com autonomia, é preciso a humildade de perdoar, e a coragem de enfrentar as novas “chineladas” que vêm por aí. Isso em favor de nós mesmos, e não por causa de alguém…

Rancor e mágoa são parasitas que sugam a nossa vitalidade, nos prendendo  a dores e sofrimentos passados, e nos subjugando ao orgulho. O perdão nos liberta desses parasitas.

Quanto ao medo de levar outra “chinelada”, impossível prevenir; é igual bala perdida: vem não se sabe de onde; pode vir de amigo ou inimigo; pode ser de raspão ou causar até a morte.

Cultivemos um tanto de coragem e fé, pois a vida e o tempo exigem pessoas fortes!

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