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Aristocracia intelecto-moral – um critério político

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 (escrito e publicado na Revista Universo Espírita em abril de 2006; revisado em fevereiro de 2008)

Ao estudar As Aristocracias, texto incluso em Obras Póstumas, Kardec analisa que essa palavra, cujo significado é: o poder dos melhores, sempre esteve muito deturpada, porque em cada época e povo, foi aplicada a pessoas que não correspondiam ao que ela diz.

Sob a luz dos Princípios do Espiritismo, vemos que essa deturpação se deve a duas causas que se somam: uma delas é a situação evolucional dos humanos nos momentos históricos considerados; a outra é a manipulação de idéias e valores, segundo os interesses dos detentores do poder, nos respectivos tempos e povos, aceita cegamente porque os demais não podiam “ver”.

Somando essas duas causas, temos que alguns humanos mais espertos e hábeis, porém ainda não moralmente evoluídos, ou seja, vivenciando plenamente o orgulho e o egoísmo, dominam os menos espertos e menos hábeis, que se submetem pelo medo e pela ignorância que os caracteriza. Ignorância de conhecimentos e de entendimentos sobre o funcionamento da vida.

Comprovando isso, Kardec faz um apanhado breve das diferentes razões que levaram às diferentes aristocracias, no processo histórico humano. Mostra que houve, primeiramente a aristocracia dos mais velhos; depois a dos mais fortes; depois a dos herdeiros dos fortes, que solidificou–se como a dos bem nascidos, ou seja a classe dos nobres, considerados superiores, em contraste com a dos inferiores, o povo. A seguir temos a superioridade dos possuidores do ouro; depois a dos inteligentes que sabiam manipular e arranjar as coisas a seu favor…

Essa análise desperta um olhar pela nossa história humana, na qual vemos a ascensão e o declínio de valores morais, socialmente aceitos, determinando as “aristocracias”. Precisamos de quem saiba mais? Elevamos os idosos como nossos líderes. Precisamos de defensores? Escolhemos os senhores da guerra como nossos senhores. Precisamos de agradar a Deus e cativá-lo ao nosso favor? Escolhemos os sacerdotes como nossos dirigentes. Precisamos de quem decida por nós? Elegemos líderes carismáticos, ditadores, políticos oportunistas.

 E os vamos entronando como salvadores indispensáveis ao nosso bem estar. Assim, com eles, nós não precisamos nos preocupar com leis e justiça social e podemos nos voltar para o nosso umbigo e cuidar do que é nosso.   Eles resolvem as coisas sociais. Eles são mais que nós …

No entanto, a sociedade não é dos líderes, ela é composta por todos e está como deixamos que esteja; como a fizemos através da lei do arbítrio e suas consequências naturais, por nossa ação ou inação, pelo investimento nela ou pelo descaso a que a relegamos.

Como a evolução, tanto pessoal como social, não se faz por estágios estanques, ainda hoje essas lideranças existem, estão funcionando e deixando dias infelizes na história humana; as “aristocracias salvadoras” perduram, mesclam-se e ainda são válidas para nossa sociedade, que nelas deposita suas esperanças e seu futuro. E assim será, enquanto a maioria de nós fizer essa opção, pelo pouco entendimento sobre quem somos e porque estamos aqui.

Admiramo-nos dos tempos em que se considerava que certas famílias tivessem sangue azul, sendo tidos como superiores aos demais, ao povo, e de como essa aristocracia de sangue manteve seu poder, fossem quem fossem os herdeiros, desde criaturas valorosas até aquelas bestiais. A submissão, a manutenção do conceito de superioridade e inferioridade, não eram fruto apenas da tradição e da ignorância, mas também da fase evolutiva humana. Basta lembrar que ainda nos detemos em expressões e conceitos subentendidos, de que ser um “príncipe” ou uma “princesa” é ser melhor, mais bonito, mais inteligente, mais digno de admiração. Ainda se sonha em ser ou casar-se com um “príncipe” ou uma “princesa”, por serem pessoas ideais…

Mas, e hoje, como é o comportamento social diante dos líderes impostos e escolhidos? A quem elegemos como nossos representantes no poder ? Como entendemos a democracia? Por que certas pessoas, façam o que fizerem, mantêm-se como solução para os impasses e as dificuldades sociais? Quais valores buscamos nos Homens líderes? Basta conhecimento? Basta erudição? Basta a família a que pertençam? Basta que falem em nome de Deus? Basta o dinamismo, a energia pessoal, o carisma, a postura guerreira?

Por tudo isso, quando Kardec apresentou seu estudo sobre as aristocracias, estabeleceu um critério, ou seja, um parâmetro para pensarmos sobre o assunto e para nos colocarmos numa perspectiva mais lúcida e realista, observando as várias facetas psicológicas dos que temos e vamos ter como dirigentes, governantes e líderes.

Ele diz que haverá uma aristocracia intelecto-moral na Terra, mostrando que deverá haver uma soma ampla de características bem desenvolvidas nas pessoas que assumirão a liderança dos povos, predominando a inteligência moralizada, ou seja a serviço do bem comum. Isso ocorrerá quando a maioria estiver apta a vivenciar tal situação.

Para tanto, nós espíritas poderemos colaborar intensamente, ensinando os Princípios do Espiritismo, que sendo leis universais servem de parâmetro para todas as mentalidades.

A meta não é a padronização de pessoas, de idéias ou de condutas. Ao contrário, é o fortalecimento da individualidade colaborativa com as características de cada um, mas aprimoradas e vivenciadas sob o entendimento de que sendo Espíritos – os seres inteligentes da Criação – somos imortais, reencarnantes, evoluímos, somos dotados de livre arbítrio, mediunidade, agimos sobre fluidos, estamos acessíveis às influências espirituais e utilizamos a matéria para nos desenvolvermos e usarmos os conhecimentos e experiências adquiridos.

Ensinar e educar crianças, jovens, adultos à luz desses Princípios é mostrar-lhes a vida sob um novo e mais amplo prisma, renovando o entendimento de sermos Espírito encarnado/uma alma com corpo de matéria densa, vivendo uma nova oportunidade de aprendizado, maturação e participação coletiva.

Estaremos assim, preparando Espíritos para a função diretiva dos países da Terra, com base nos reais valores pessoais, espirituais e nos reais interesses de progresso, liberdade e elevação social solidária, que eles saberão estabelecer como educação moral dos cidadãos. Quem estiver aqui, verá e viverá esse tempo.

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