Allan Kardec
Allan Kardec

O triste pacote de erros – 2ª-edição

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(Texto renovado; originalmente editado nesse Jornal, número 264, junho de 2019)

Toda ideia nova encontra resistência e objeções, quando não dá apoio a paradigmas, hábitos e crenças arraigados. O Espiritismo está  nessa situação de ideia renovadora, desde o século XIX. Estamos no XXI!

O caráter altamente inovador e naturalmente moralizante das ideias e modos de entender a vida, trazidos pelo diferencial constituído pelos Princípios do  Espiritismo, encontrou e encontra apoio nas pessoas ávidas de libertar-se de ideias limitantes, das injustiças sociais e do marasmo das obrigações religiosas, detentoras do medo da punição divina. Mas também encontrou inimigos ferrenhos, ostensivos e disfarçados, encarnados e desencarnados; até mesmo entre espíritas há quem busque adaptá-lo à conceitos deturpantes.

Gigantescas foram a dedicação e a convicção de Kardec. Gigantescas as dificuldades de todo tipo,  encaradas com coragem e dedicadíssimo prosseguimento de sua tarefa, sem polêmicas, acusações ou arrefecimento.

O tempo da completa assimilação das ideias espíritas, para sua aplicabilidade como base da vida, ainda não chegou. Até porque, 163 anos depois de sua chegada ao mundo, já se pode ver com clareza que um grande e elaborado desvio, planejado e urdido cuidadosamente, desviou esses Princípios, em muitos e relevantes aspectos.

Tão relevantes que descaracterizaram exatamente o grande diferencial libertador trazido ao mundo pelo trabalho exaustivo de Kardec, assemelhando o Espiritismo aos conceitos religiosos já entranhados na sociedade, com pequenas mudanças de ideias e nomes. O que fez de um bom número de espíritas, pessoas crédulas, carregando uma espécie de canga nas costas para serem “melhores”, seguidores de líderes, cheios de culpas, medo e a consequente atitude de hipocrisia, em muitos nem percebida. Exatamente o que Jesus apontou como indesejável, e o Espiritismo jamais ensinou

É o que chamo de “pacote de erros”. Por exemplo:

1. Deus entendido como um ser, um juiz condenador; pune e premia, intervêm na vida das pessoas, decidindo acontecimentos, conforme seja obedecido ou não. Ele sabe o que é bom para nós; quanto mais se pede em preces, mais Deus nos ouve e atende. Ele criou cada espécie vegetal e animal, os minerais e fenômenos da Natureza. Em preces e frases de efeito, costuma ser confundido com Jesus;

2. Reencarnação é para pagar “pecados”, desobediências e erros de vidas passadas; quanto maior a dificuldade, maior o “crime” cometido; os detalhes físicos e morais da próxima encarnação são escolhido por equipes espirituais; eles sabem as

 necessidades de cada um; a família é antecipadamente escolhida e quem não cumpre com isso, terá severos sofrimentos; muitos estão na última oportunidade reencarnatória para se tornarem bons ou serão punidos com a expulsão para um planeta inferior, onde sofrerão agruras mil;

3. A evolução depende da intervenção dos Espíritos bons e superiores, que dirigem os obedientes. Deve-se ser perfeito! É dito que o processo evolutivo é individual, gradual e eterno, mas em vista da punição aos erros, é melhor obedecer a quem sabe;

4. Arbítrio livre é para que se obedeça o que dizem ser as leis/regras estabelecidas por Deus, e jamais questionar a vida ou querer pensar por si, porque isso acarreta erros e punições cada vez maiores. Todos tem arbítrio em igual proporção, dado por Deus e deveriam agir da mesma forma. Toda ousadia acaba mal;  

5. Causa e efeito ou ação e reação é lei da qual ninguém escapa; trazemos dívidas de vidas passadas. Deus premia ou pune os Espíritos de forma determinística segundo a obediência e submissa ou não. Fez tal coisa… paga de tal maneira!  

 6. Os fluidos saem pelas pontas dos dedos nos passes. Sem evangelho no lar, seguindo estritamente as regras, nossa casa fica suja e ocupada por energias ruins. Obedecendo as regras, e pedindo muito, os bons Espíritos vêm em nosso auxílio e limpam a casa. Deve-se tomar passe para nos purificarmos das sujidades e para resolvermos qualquer dificuldade;

7. O perispírito é preso ao corpo por um cordão de prata, durante a encarnação; há grande dificuldade dos Espíritos superiores nos ajudarem, pois sofrem um longo tempo para adensar seu perispírito e poderem chegar até nós. Os erros, culpas e desvios de rota marcam fisicamente o perispírito, deixando todos verem as dívidas do Espírito;

8. Mediunidade é para fazer caridade aos infelizes sofredores e maus. O portador dela trás culpas graves do passado; se não a usar será castigado com perturbações; o médium que a pratica em reuniões espíritas, diminui suas dívidas, que serão perdoadas por Deus. Os bons médiuns são intermediários apenas dos Espíritos elevados e suas mensagens são para serem aceitas e obedecidas. São palavras de Deus!

9. Desencarnados, os Espíritos culpados vão para o umbral, onde pagam duramente por seus erros, com dores e sofrimentos físicos atrozes. Jesus e os Espíritos bons e elevados, choram por causa de nossos erros e calamidades; sofrem muito por nós! Médiuns dedicados e boas pessoas são recebidos por Jesus e premiados com a felicidade perene;

10. Pessoas obedientes, temerosas a Deus, boas, não são influenciadas por Espíritos mau intencionados e vingativos. São protegidas de problemas e maldades …

Diante deste pacote de erros, oferecemos um curso de Princípios básicos do Espiritismo… Nosso primeiro convite é para uma profunda reflexão sobre como você pensa. Percebendo que precisa rever algo, é hora de empreender um reestudo das obras de Kardec. Evite interpretar pelo que já sabe, mas tome atitude mental de aprendiz. Vai redescobrir o Espiritismo!

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