O hábito mental e a renovação necessária

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Mesmo entre espíritas é muito comum um equivocado conceito de que deveríamos ser moralmente inquestionáveis, ou seja, termos um comportamento ideal sob todos os aspectos, para não recebermos penalidades divinas, nesta vida ou após ela.

Conceito este que determina uma série de derivações, tais como: a noção subjacente de um Deus personalizado atuando no espaço-tempo, decidindo por nós, protegendo ou penalizando, segundo goste ou não de nossa conduta; temor de Deus, justamente por isso; obediência ao que dizem ser a vontade de Deus; submissão aos considerados representantes de Deus, sejam clérigos ou médiuns; o receio de pensar diferente do tradicionalmente dito como certo; o relativo abandono do próprio arbítrio, temendo errar e sofrer as penalidades divinas; a manutenção de uma postura mental mística, aceitando interpretações absurdas sobre quais seriam as razões de estarmos encarnados e quais nossas obrigações e modos de pensar, para concertar os erros do passado, evitando  outros. Também, a submissão cega aos embaraços, frustrações, maus tratos e todo tipo de injustiça, como modo de “pagar” os prováveis desatinos da encarnação passada… cultivando culpas, tornando a vida pesada, sem graça, difícil, amarga. Reforço da postura mental heterônoma.

E no outro extremo, há o descaso, a indiferença e a negação de tudo o que não possa ser reconhecido pelos sentidos físicos, recusando a influência espiritual, a mediunidade, a reencarnação e as consequências naturais do arbítrio, por oponência racional a essas ideias e pregação ilógica, irracional e adestradora.

Há uma dramaticidade no entendimento das dificuldades, problemas e embaraços da vida; mesmo considerados como provas e mesmo sabendo-se que as provas existem para provarmos conhecimento e competência e não para nos prejudicar e fazer sofrer.

Por sinal, essa dramaticidade, sendo representante de uma incompreensão sobre a naturalidade da vida e das dificuldades circunstanciais dela, acarreta equívocos, sentimentos negativos, medo… facilitando a interferência de forças mentais malignas e oportunistas, que criam mais impedimentos para darmos passos em prol de nosso próprio equilíbrio emocional e psicológico. Verdadeira prisão!

Para sair disso há vários caminhos. O Espiritismo trouxe essa diretriz pelos seus Princípios, que são leis universais e as lições de Jesus, como um processo libertador e renovador das nossas consciências, tão bombardeadas por códigos de penalidades, viciação comportamental, pressões sociais e familiares.

Conhecer, estudar e pautar a vida, dentro do possível, pelos Princípios espíritas, torna-a leve, fluente e facilita um desenvolvimento liberador de amarras interiores que aguçarão a inteligência racional. Esta amplia o arbítrio. Nele estão as consequências naturais. Lidar com elas fortalece o senso moral que também se amplia com a libertação interior. E vai crescendo a postura mental autônoma que nos afasta dos dogmas, dos temores, da fé cega e da obediência temerosa. Saímos da rotina mental e “viramos gente”!

O preço a pagar é o empenho de questionar tudo e raciocinar, entendendo que as dificuldades são sempre fruto do desconhecimento, e jamais penalidades! Cada descoberta de um engano ou equívoco é motivo de alegria, porque um passo a mais foi dado no caminho da harmonia pessoal. Ninguém nos obriga a nada! Somos realmente o artífice de nós mesmos, como disse Kardec.

Eis os Princípios do Espiritismo como os entendo, em homenagem ao meu pai Abraão Sarraf, cuja iniciativa inspirada criou o primeiro e creio que único curso de Princípios. Foi em 1965. Ocupo-me em aprimorá-lo há uns 40 anos e ministrá-lo, estabelecendo uma coluna mestra do pensamento espírita, como Kardec planejou no Projeto 1868.  Certamente ele faria um curso que não é este… mas foi sua última disposição organizacional do futuro do Espiritismo.

Os Princípios funcionam em conjunto. São estudados, didaticamente, um a um, buscando sua aplicação na vida diária: Deus, o Criador; Espírito e matéria, elementos criados por Deus; leis universais: Imortalidade dos Espíritos, Reencarnação dos Espíritos, Progressão dos Espíritos, Livre Arbítrio, Consequências naturais do arbítrio, Fluidos, Perispírito, Pluralidade dos mundos habitados, Mediunidade, Influência dos Espíritos sobre os encarnados, Espíritos em erraticidade, Ação dos Espíritos sobre os fenômenos da Natureza.

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