O tripé da moral espírita

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Quando pensamos em moral, estamos nos voltando para a conduta humana, independentemente de ser matéria universitária, ligada a filosofia ou referente a regras de conduta. Tradicionalmente, se diz boa moral, má moral…

No trabalho de Kardec, a mais das vezes ele se refere ao comportamento humano.

Quando estudamos os Princípios do Espiritismo, nas várias abordagens dadas a eles nos livros básicos, acabamos por perceber que a moral se estrutura em três pontos, interligados e interdependentes que fazem a somatória evolutiva de cada um, em determinado momento observado: inteligência racional, livre arbítrio e as naturais consequências dele.

Claro que tudo se soma em relação a nossa evolução pessoal, incluindo a influência do meio físico, social e espiritual em que cada um se insere; inserção essa absolutamente coerente com a situação geral evolutiva, de modo que tendências, conceitos, preconceitos… são reforçados ou diluídos em cada encarnação ou circunstâncias de uma vida material. O mesmo se dando nos períodos em erraticidade.

Encarnados ou desencarnados, o processo de desenvolvimento da moral é o mesmo. Atingindo a fase humana, vamos gradativamente desenvolvendo a inteligência racional que vai se somando, e em alguns pontos substituindo, a instintiva que trouxemos da etapa anterior, a fase evolutiva no reino animal.

Nesse processo gradativo, proporcionalmente ao desenvolvimento da inteligência racional, é desenvolvido o arbítrio. Livre porque é de cada um de uma forma específica, se bem que grupos humanos interagem e o desenvolvem de forma semelhante, mas jamais igual, porque a individualidade é predominante, mesmo que não seja notória, nas primeiras etapas humanas.

O arbítrio, ao ser usado, de forma insipiente no início, e cada vez mais ampla no decorrer das vidas e situações, estabelece automaticamente consequências que lhe são naturais; uma forma divina de percebermos a nós mesmos e escolhermos nossos caminhos. Essas consequências são exatamente proporcionais ao arbítrio que é exatamente proporcional ao desenvolvimento da inteligência racional. De forma que nada é injusto ou desproporcional ou imposto. Cada um cria suas circunstâncias pelas escolhas que pode fazer, mesmo que essa escolha seja seguir opinião alheia ou nada escolher.

Estando na nossa vida, essas consequências do arbítrio não podem ser evitadas. Poderão passar despercebidas, serem ignoradas, terceirizadas, consideradas injustas ou prêmios, mal entendidas como castigo ou benefício divino, “empurradas com a barriga” ou estimularem o orgulho, a vaidade e o egoísmo, vividas de forma acomodada por conceitos de autopunição ou merecimento… Isso não importa, porque elas vão trabalhando o arbítrio e desenvolvendo, também gradativamente, a vontade e o senso moral. Esse é um senso íntimo, pessoal, que mesmo usando regras de conduta, estabelece uma característica única para cada um, por ser fruto das experiências vividas e da capacidade de observação.

Vivências experimentadas e observação íntima e exterior revertem-se em ampliação da inteligência racional. Portanto amplia-se o arbítrio e a condição de usá-lo de forma a beneficiar-se bem como aos demais. O que dá mais consistência à vontade e ao senso moral.

Imperceptivelmente a evolução vai se fazendo na proporção do desenvolvimento da inteligência racional, que desenvolve o arbítrio que traz as consequências naturais, que amadurecem a criatura pelo desenvolver da vontade própria e do senso moral individual.

De modo que cada um tem variadas condições evolutivas, dependendo do aspecto examinado. Muito discernimento num ponto e ignorância em outro… Todos somos mais ou menos assim, em aspectos diversos. Na convivência, uns estimulam, ajudam ou atrapalham os outros. Observar esse mecanismo que não tem regras fixas de desenvolvimento, mas vai se formando em cada um, primeiro inconscientemente e depois pelo descobrimento do poder de buscar o que serve, satisfaz e acrescenta benesses, nos leva ao progresso consciente e à autonomia intelectual e moral.

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