Princípios do Espiritismo e o triste pacote de erros

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(Texto renovado; originalmente editado nesse Jornal, número 264, junho de 2019 com o título O triste pacote de erros.)

Kardec estabeleceu, no projeto 1868, visando uma segunda fase do Espiritismo, como último projeto, organizar um curso que firmasse a unidade de Princípios, de modo que eles fossem os mesmos para todos os espíritas, embora nos Centros e grupos as práticas e atividades fossem diversas.

Essa informação está registrada de forma sintética em Obras Póstumas. Na Revista Espírita de dezembro de 1868, item IX Kardec escreveu que organizado o Espiritismo, nessa segunda fase, conforme ele esteve descrevendo “ os espíritas do mundo inteiro terão Princípios comuns, que os ligarão … mas cuja aplicação poderá variar conforme as regiões, sem que por isso, seja rompida a unidade fundamental, sem formar seitas dissidentes que se atirem a pedra e o anátema.”

Na década de 60 o sr. Abraão Sarraf foi inspirado a organizar um curso sobre os princípios básicos do Espiritismo. Chamou-o de Curso Fundamental de Espiritismo e ele foi composto com o trabalho de pesquisa de todos os membros do grupo diretor da Sociedade Espírita de Tatuapé, antigo Centro Espírita Francisco de Paula, no bairro do Tatuapé, São Paulo capital.

Estudamos cada Princípio separadamente, didaticamente, para entender seu funcionamento conjunto. Foram entendidos como leis universais e como os mesmos ensinos trazidos, vivenciados e demonstrados por Jesus.

Ficou cada vez mais claro como a Vida funciona e como podemos usá-los na escolha de pensamentos e condutas mais coerentes conosco, à luz do Espiritismo.

Um dia saberemos como seria o curso que Kardec estabeleceria!

Essa herança preciosa tem sido, para mim, motivo de muita pesquisa, renovação didática e ampliação de raciocínios, deduções e aplicação pratica. Afinal, me sinto devedora face aos incontáveis esclarecedores benefícios que obtive e que tenho distribuído em centenas de vezes que esse curso foi levado à espíritas e não espíritas, por anos e anos a fio.

Já de algum tempo adotei da denominação dada por Kardec: Curso de Princípios básicos do Espiritismo.

Kardec deixou bem claro que toda ideia nova encontra resistência e objeções, quando não dá apoio a paradigmas, hábitos e crenças arraigados. O Espiritismo XIX. Estamos no XXI!

O caráter altamente inovador e naturalmente moralizante das ideias e modos de entender a vida, trazidos pelo diferencial constituído pelos Princípios do  Espiritismo, encontrou e encontra apoio nas pessoas ávidas de libertar-se de ideias limitantes, das injustiças sociais e do marasmo das obrigações religiosas, detentoras do medo da punição divina. Mas também encontrou inimigos ferrenhos, ostensivos e disfarçados, encarnados e desencarnados; até mesmo entre espíritas há quem busque adaptá-lo à conceitos deturpadores.

Gigantescas foram a dedicação e a convicção de Kardec. Gigantescas as dificuldades de todo tipo, encaradas com coragem, altruísmo, autonomia e dedicadíssimo prosseguimento de sua tarefa; sem polêmicas, acusações ou arrefecimento. Avisado estava! Confiou e se manteve firme e fiel aos propósitos de constituir o Espiritismo, apesar das dificuldades.

O tempo da completa assimilação das ideias espíritas, para sua aplicabilidade como base da vida, ainda não chegou; nem para os adeptos e muito menos para a humanidade. Até porque, 163 anos depois de sua chegada ao mundo, já se pode ver com clareza que um grande e elaborado desvio, planejado e urdido cuidadosamente, desviou o correto entendimento dos Princípios espíritas,  em muitos e relevantes aspectos.

Tão relevantes que descaracterizaram exatamente o grande diferencial libertador trazido ao mundo pelo trabalho exaustivo de Kardec, assemelhando o Espiritismo aos conceitos religiosos já entranhados na sociedade, com pequenas mudanças de ideias e termos. O que fez de um bom número de espíritas, pessoas crédulas, carregando uma espécie de canga nas costas para serem “melhores”, seguidores de líderes e de médiuns, cheios de culpas, medo e a consequente atitude de hipocrisia, em muitos nem percebida. Exatamente o que Jesus apontou como indesejável, e o Espiritismo jamais ensinou! Ao contrário, mostrou a incoerência e o grande engodo dessa forma de pensar e agir.

É o que chamo de “pacote de erros” porque um desvio leva ao outro, engambelando os desatentos ou que pouco conhecem o Espiritismo, por ter semelhança com ideias e preconceitos impostos religiosamente e bastante conhecidos.

Por exemplo, e de forma sintética, sem citar as fontes de consulta que estarão nos textos do curso:

1. O Princípio da Imortalidade dos Espíritos é uma lei universal, conceituado com o diferencial, face aos conceitos religiosos, de que os Espíritos permanecem com sua identidade, características peculiares e atividade “física”, mental e com os sentimentos que lhe são próprios.

O Espiritismo, constatando e comprovando a imortalidade dos Espíritos, matou a morte, como disse Cairbar Schutel.

No pacote de erros esse diferencial não é negado, mas convive com a incoerência da suposição de que o desencarnado está a par de tudo que ocorre na Terra, ou na família a qual; e que tem um lugar fixo para ficar, “pagando” com sofrimento pelos erros cometidos. Também há o folclore de que os parentes e amigos não devem chorar, pois atraem e prejudicam o desencarnado, como se ele tivesse a obrigação de se desligar, do dia pra noite, de sua vida e laços de sentimento. E há inclusive a ideia equivocada de fazer pedidos de socorro e ajuda de todo tipo, para os parentes ou personalidades respeitadas, desencarnados, no equívoco de que teriam capacidade para qualquer tipo de colaboração.

2. O Princípio da Reencarnação dos Espíritos é uma lei universal e está conceituado como sendo cada encarnação uma nova oportunidade de aprendizado, maturação e progresso espiritual. As vicissitudes naturais da vida, longe de punições, são as experiências necessárias para cada um desenvolver seus potenciais e capacitações, rumo à harmonia pessoal e à superioridade espiritual que todos, sem exceção alcançarão um dia. A partir de um grau de desenvolvimento do arbítrio, que dê discernimento suficiente para reflexões e observações sobre si mesmo, é possível escolher situações gerais e materiais para a próxima encarnação; sempre segundo as necessidades percebidas. Escolhas de ordem moral, mesmo feitas, dependerão do auto empenho em desenvolver ou minimizar modos de pensar que mantêm hábitos, conceitos e condutas.   

Na reencarnação há nublamento da memória das vivências anteriores, porque o cérebro do corpo novo não tem as sinapses do antigo; e o aparente recomeço do Espírito carrega tendências de toda natureza, correspondentes as características desenvolvidas ou a desenvolver, trazidas do passado.  Excepcionais casos de memória ativa de algumas situações da vida anterior, ou apenas de capacitações muito desenvolvidas, sempre manifestadas em tenra idade, são alvo de pesquisas psíquicas importantes e comprovadoras dessa lei geral e universal.

O esclarecimento sobre a palingenesia tem aplicação terapêutica para certos casos de desencarnados em conflito ou vingança; e também, para encarnados, como tratamento psicológico com vistas à superação de traumas e limitações emocionais que estejam perturbando a vida presente, sem causa nesta.

Jesus referiu-se de forma clara sobre esse Princípio.

No pacote de erros, a reencarnação existe para o pagamento dos “pecados”, desobediências e erros de vidas passadas; quanto maior a dificuldade, maior o “crime” cometido.  Os detalhes físicos e morais da próxima encarnação são escolhidos por equipes espirituais, que sabem das necessidades de cada um e o não cumprimento dessas determinações acarretará sofrimentos maiores. As dificuldades enfrentadas, seja em si mesmo, com outras pessoas, parentes ou o que for, são entendidos com carma/karma, ou seja advindos de erros e desobediências a Deus e ter cedido às tentações. Mas nos Princípios do Espiritismo não cabe a ideia de karma, que é a queda do Espírito puro, por tentação quando encarna. Devendo então, ter reencarnações purificadoras. No Espiritismo, os Espíritos iniciam zerados em tudo e progridem sem retrocesso.

Há uma equivocadíssima divulgação de que muitos Espíritos ditos como criminosos e outros, cuja moral está oscilante, estão na última oportunidade de reencarnar no planeta Terra. Seria sua condição para se tornarem bons e elevados, ou serão punidos com a expulsão para um planeta inferior, onde sofrerão agruras mil. Ou seja, terão que evoluir numa única encarnação! Mas quem reencarna não se lembra da vida passada, ou seja, que punição é essa? Sim, há migrações, e são naturais, oferecendo condições sempre renovadas para o amadurecimento e o equilíbrio moral.

Pais e filhos são escolhidos antecipadamente e evitar isso, da forma que for, gera punição e castigos divinos severos. Também é divulgado erroneamente que encarnações com deficiências físicas ou mentais sejam prova de má conduta em vida anterior; bem como características diferentes das da maioria são consideradas desvios e receberão punição divina. Também não é levado em conta que os Espíritos nas fases anteriores á humana, também reencarnam, embora ajudados por Espíritos de certa evolução, devotados e capazes, que se responsabilizam por essa tarefa.

3. O Princípio Espírito e Matéria não é uma lei universal. Esses são os elementos criados por Deus, segundo os Espíritos que constituíram o Espiritismo. Do Elemento espiritual primitivo individualizam-se os Espíritos e iniciam seu processo evolutivo infindável. O Elemento material é apenas instrumento, esteja no estado de agregação que for, do qual todos os Espíritos, no grau evolutivo que estiverem, se utilizam e sobre o qual agem para constituírem seus corpos e. conforme sua evolução, tudo que existe nos universos, incluindo os corpos celestes. Essa matéria elementar primitiva também é conhecida como fluido cósmico universal, termo concebido por Franz Anton Mesmer, no século XVIII.

No pacote de erros, esse Princípio é praticamente desconhecido. Grassa o entendimento de Deus ter criado todas as espécies vegetais e animais e os corpos celestes. Também é rara a distinção de que a matéria densa não age, não se agrega sozinha, é mero instrumento dos Espíritos e está submetida a leis deterministas que a tornam suscetível de estudo pela Ciência. Essas leis são derivadas da lei universal de Consequências naturais e estabelecidas da maneira como funcionam na Terra, por exemplo, por serem fruto do arbítrio dos Espíritos superiores que criaram o nosso planeta. Leis deterministas da matéria densa são muito distintas da vontade/arbítrio que é a única lei do Espírito.

A distinção entre matéria densa e matéria fluídica costuma ser feita, mas de forma incipiente face as grandes diferenças de propriedades e da forma de utilização por parte dos Espíritos.

4. Se o conceito sobre Deus determina como a Vida é conceituada, o da Progressão ou evolução dos Espíritos determina como a sociedade é entendida, e também os componentes das demais etapas anteriores a humana.

Pelo Espiritismo a progressão espiritual inicia quando cada Espírito se individualiza do Elemento espiritual primitivo, e jamais terá fim. Nesse processo, em primeira etapa e durante universos de tempo, há o desenvolvimento das formas internas e externas, e as funções dos corpos físicos, desde antes das notórias formações moleculares, até os animais pouco evoluídos. Depois, gradativamente, dos instintos, emoções e inteligência e sentimentos primitivos, notórios nos animais mais evoluídos. São as fases atômica, mineral, vegetal e animal, tomando por observação, o planeta Terra. É a base estrutural evolutiva indispensável para a próxima fase: a humana.

Os animais evoluem coletivamente na espécie em que estão, como nós humanos, na nossa, embora em etapa superior e consciente. Mas também evoluem individualmente, porque a experiência mostra as diferenças de indivíduo para indivíduo, nas observações que se pode fazer dos animais mais evoluídos. Caminham para a humanidade…

Chegados à fase humana, por mais universos de tempo os Espíritos vão aos poucos desenvolvendo a inteligência racional. Com ela o arbítrio, a vontade e o enfrentamento natural das consequências coerentes e embutidas no arbítrio. Também há a personalização e a ampliação, sempre gradativa, dos sentimentos e a caracterização psicológica das emoções, em conformidade com a mentalidade de cada um, na época observada. Nesse processo há o sequente desenvolvimento gradativo da elaboração do senso moral e depois do senso ético, individuais (comportamento diante de si, dos demais e da Vida em seu todo). Incluir a mediunidade e as múltiplas percepções espirituais.

Isso, como Espíritos da terceira ordem da escala espírita – nossa localização – cujas características são a base para que a evolução prossiga na segunda ordem, onde algumas delas já estarão superadas e outras serão ampliadas, bem como novas estarão sendo desenvolvidas, rumo à próxima etapa evolutiva.

Este princípio nos dá o cerne do entendimento de qualquer situação humana, por explicar que a forma de pensar de cada um, na ocasião observada, é resultante do gradativo, multifacetado e pessoal desenvolvimento da inteligência racional. Ou seja, é a razão individual de seu comportamento.

Se há forma física, características corporais, órgãos, funções e potencialidades, é porque o Espírito, na situação evolutiva que estiver, desenvolveu-se o suficiente para transferi-la à espécie e corpo que poderá ter, quando encarnado. O que confirma a progressão ininterrupta do Espírito individualizado, que soma em si, agregadas e fundidas, todas as fases, etapas e minúcias até então vividas, umas dependentes das outras. Nas inumeráveis formas físicas que há na Terra, esse processo é demonstrado, desde as subatômicas até a humana, formada de átomos.

Evoluímos do nada para o tudo, do inconsciente para o consciente, do imperfeito para o perfeito, embora haja coerência e perfeição relativa de formas e condutas, em cada um, em cada fase, em cada etapa.

No pacote de erros, a evolução é muito pouco levada em consideração. No geral entendida apenas como moral e julgada segundo o entendimento de alguém. Equívocos, erros, desvios, preconceituosamente, não são considerados evolução, embora façam parte intrínseca dela. Costuma ser citada, mas não usada como raciocínio básico e estrutural do pensamento espírita, onde predomina o julgamento moral, a condenação e as regras impostas como verdades absolutas. Muitos a entendem como dependente da intervenção dos Espíritos bons e superiores, e não como uma conquista pessoal. Há que pedir e se submeter, para ser atendido e ajudado, seja por Deus, Jesus ou bons Espíritos. Deve-se ser perfeito moralmente para evitar os obsessores, o umbral lamacento, as encarnações punitivas e a vida dificultosa. É dito teoricamente que o processo evolutivo é individual, gradual e eterno, mas fica por ai, funcionando como uma espécie de conto de fadas, por causa do medo da punição aos erros; o que induz á infantilização mental e moral, à heteronomia e ao equívoco de que é melhor obedecer “a quem sabe”, a quem cada um tem como autoridade. Isso evita o trabalho de examinar e decidir por si, ou seja, correr o perigo de errar e ser castigado e sofrer. Os diferentes costumam ser condenados e vistos como aberrações ou intervenção do mal.

Sobre as plantas nem se fala, mas quanto aos animais costumam ficar fora das reflexões evolutivas, havendo muito mais aceitação das teorias da neurociência materialista, que põe no cérebro as características instintivas emocionais e comportamentais, do que os raciocínios evolutivos trazidos pelo Espiritismo. E mesmo, as ricas e elucidativas observações cotidianas que se possa fazer sobre esses nossos irmãos em fase anterior a humana, sem humanizá-los, é óbvio, por mais que correspondam aos fatos reais, costumam ser consideradas apenas como crendice.

5. O Princípio espírita e lei universal do Livre arbítrio, é conceituado como a condição individual de escolher, optar após seleção analítica. Na fase evolutiva humana gradativamente é desenvolvida a inteligência racional, a capacidade de pensar, raciocinar, deduzir, criar ideias, imaginar e conceituar. Essa capacidade é a mãe do arbítrio. De modo que na medida exata, em extensão e profundidade do quanto essa inteligência esteja desenvolvida, há o arbítrio, sendo, portanto, individual e diferente para cada humano. Apesar das limitações evidentes e da condição díspar na comparação dos indivíduos quanto a essa capacitação, ela é livre para ser usada como cada um possa ou queira, inclusive para deixar que outro faça escolhas por si.  

Se no processo evolutivo partimos do “zero” em questão de forma física, que vai surgindo em conformidade com o desenvolvimento das potencialidades em germe que há nos Espíritos, sendo o corpo perfeitamente “perfeito” para cada etapa evolutiva, do ponto de vista moral partimos também do zero e somos imperfeitos em todos os aspectos, rumo a perfeição futura. Porque tudo que se refere a moral ou comportamento, que só existe na fase humana, depende da vontade, das escolhas e das peculiaridades do desenvolvimento da inteligência racional.

Há sim, o copiar comportamentos, obedecer regras e pessoas, imitar e aparentar, até para si mesmo. Todavia, essa etapa evolutiva, sempre gradativa e feita  por acumulação e somatória de experiências boas e ruins, implica no desenvolvimento intimo do entendimento das leis da Vida; as leis universais. Estando cada Espírito “certo” em suas imperfeições morais, no momento observado (porque é só o que pode ter), apenas o tempo e as circunstâncias, as informações adquiridas e as experiências podem amadurecer e mover sua vontade de empreender modificação para melhor, na própria conduta.

O arbítrio pode gerar liberdade mental, mas também hábitos e condicionamentos. Só a auto-observação respeitosa consigo, prática essencial, faz o reconhecimento de hábitos negativos e de condicionamentos que necessitem ser diluídos e eliminados.

No pacote de erros, o livre arbítrio é considerado igual para todos; equivocadamente entendido como sendo dado por Deus, devido a uma expressão figurada no texto de Kardec, na medida em que todas as nossas capacidades e competências são fruto de gradativo desenvolvimento de potenciais preparados nas fases não humanas, para desabrochar aos poucos na humana. Inclusive por existir em graus diversos, o que é muito notório, se fosse dado por Deus, seria uma injustiça; ou deveria ser igual para todos, o que corresponde as cobranças de comportamento tão comuns e injustas.

Nesse entendimento equivocado de o arbítrio ser igual em todos os Espíritos, está embutido que todos deverão usá-lo de modo igual e responder igualmente por seu uso. O que estimula o medo de escolher e ser punido pela possível escolha errada, já que faz parte do pacote de erros, amedrontar com a necessidade da perfeição comportamental/moral, promovendo a obediência cega e a heteronomia. Isso revela que a lei de evolução não é levada em conta e combina com a condenação social a todo equívoco, fracasso ou incompetência; um desestímulo ao desenvolvimento da postura mental autônoma. E também combina com as regras religiosas de obediência cega às leis das igrejas, ditas serem de Deus, que induzem a jamais haver questionamento delas e muito menos querer ser livre, pensar por si ou desobedecer, o que causaria sempre mais erros e maiores punições. Apesar de que, em oposição ao meio espírita, a sociedade e o ensino religioso desconhecem o processo evolutivo e suas nuances individuais, que precisa sempre ser levado em conta.

6. O Princípio espírita e lei universal de Consequências naturais é conceituado por Kardec como sendo parte integrante do arbítrio. “Filho” da inteligência racional, o arbítrio é pai e mãe das Consequências naturais ou resultados de si próprio. Está em cada escolha, seja qual for, o seu resultado, inalteravelmente, mas sempre segundo as condições pessoais de cada um. Ou seja, num determinado aspecto da vida, pouco arbítrio, por exemplo, corresponde a pouco desenvolvimento da inteligência racional e gera pouca ou nenhuma consequência. O que é absolutamente coerente com a justeza das leis universais. A responsabilidade pelos atos, que são fruto/consequência do pensamento, é pessoal, mas difere para cada pessoa, de nada adiantando querer igualá-la, pois como se diz, cada um só pode dar do que tem.

A convivência inalienável com as consequências das próprias escolhas, e o necessário aprender a lidar com elas, mesmo que tardio, seja solucionador ou ainda não, gradativamente ajusta o desenvolvimento da vontade e desenvolve o verdadeiro senso moral, que é diferente de seguir regras morais. Dele vem a ética. Isso porque buscando aprender ou fugindo ou terceirizando, haverá o dia do encontro com o melhor e com a felicidade íntima de vencer obstáculos e firmar-se em si, garantir-se, diante dos desafios, provocações e situações inusitadas ou inesperadas, que fazem parte natural da vida de cada um. É o caminho para o próprio equilíbrio e a colaboração efetiva para a harmonia geral. Seja no estado de encarnação ou errático.

Nada do que ocorra é injusto ou inadequado, na medida em que o modo de pensar e entender, os conceitos e formas de agir são pessoais e produzem resultados pessoais.

Sendo imperfeitos moralmente, oscilando entre boas e más escolhas, tendo que conviver e enfrentar as consequências naturais delas, mas caminhando para o amadurecimento pessoal, os problemas, as dificuldades, as vicissitudes em geral, só parecem situações ruins; na verdade são as condições necessárias para o desenvolvimento do entendimento, da percepção e da sensibilização básicas para melhores escolhas. Sofrer ajuda, por mais que doa.

Basicamente, o livre arbítrio e suas naturais consequências são a estrutura do entendimento da moral espírita; compreender isso é tirar uma canga das costas, criada de medos, preconceitos e ilusões impostos pelas religiões e pelo desvio do real entendimento dos Princípios do Espiritismo. Moral é um desenvolvimento gradativo de qualidades espirituais, dependente da vontade que cada um possa ter.

Por mais que os termos culpa, culpado e outros desse gênero fossem a forma comum de expressão do século XIX, e por isso presentes na obra de Kardec, o fato de estarmos em evolução faz compreender que errar e acertar estão incluídos naturalmente nesse processo, não havendo necessidade de culpa, e sim de  reconhecimento dos equívocos e o necessário ajustamento.

No pacote de erros, essa lei foi confundida com a lei da matéria densa denominada causa e efeito, causalidade ou ação e reação. As leis embutidas na matéria densa são deterministas, funcionando sempre da mesma maneira, na dependência do tipo de organização molecular ocorrido. Esse determinismo não pode ser aplicado ao comportamento humano, que é resultante de escolhas e decisões que diferem de indivíduo para indivíduo, segundo sua história evolutiva; e num mesmo indivíduo, nos vários aspectos da sua vida.

Do equívoco de entender o arbítrio como igual para todos  e a moral como causa e efeito, advém outro, aquele de que ninguém escapa desses efeitos, num claro terrorismo moral, que amedronta e cria o falso entendimento de que as vicissitudes da vida são punições e castigos divinos aos erros cometidos;  mas são naturais e consequentes às condições possíveis de escolha de cada um; compõem o processo evolutivo, ensinando individual e coletivamente, o que é preciso para ampliar potencialidades e capacidades. Esse terrorismo remete as pessoas a sentirem-se culpadas, amaldiçoadas e a se subjugarem a falsos líderes morais, abdicando de suas decisões pelo medo do “faz-paga”. Inferno pessoal que só o sofrimento, o tempo e o despertar de potenciais espirituais trarão a maturação necessária para se opor a isso e assumir-se como individualidade responsável única por si; assim como capacitada para gerir a vida da forma que considerar melhor. Começa aí o desenvolvimento da postura mental autônoma.

7. O Princípio espírita e lei universal da existência dos Fluidos ou matéria fluídica, é conceituado como havendo no universo todo, um tipo de matéria denominada por Mesmer de Fluido cósmico universal, que é a Matéria elementar primitiva, do qual derivam todos os tipo de matéria que existe; incluindo as que chamamos de fluidos, cuja gradação se faz pela proximidade ou afastamento de um Espírito encarnado ou desencarnado que atue mentalmente, sobre ela.

Vivemos imersos em fluidos; o pensamento atua sobre eles e os elabora no mesmo teor, e os qualifica imediatamente e durante o tempo de sustentação desse pensamento. É o material de ação e do “mundo” dos desencarnados; e é a estrutura para os fenômenos psíquicos. Nossos órgãos dos sentidos não os percebem, nem os aparelhos humanos os captam. Mas podemos inferir suas qualidades por nossa percepção extra sensorial, em ambientes e pessoas.

As propriedades dos fluidos podem ser assim entendidas: expansibilidade, contratibilidade, maleabilidade, qualificabilidade, instabilidade e penetrabilidade.

A Ciência atual denomina fluidos a substâncias voláteis que se comportam como líquidos e gases. No século XIX havia a hoje superada teoria dos fluidos, entendendo que fossem substâncias imponderáveis feitas de átomos indivisíveis. Foram assim considerados o calor, a vitalidade, a luz e o magnetismo.

Para Mesmer e para o Espiritismo fluido não é e nem forma substâncias. Apenas a matéria densa o faz.

No pacote de erros, fluido é considerado como substância e entendido que os fluidos saem pelas pontas dos dedos durante os passes.

Muito pouco é levada em conta e posta em funcionamento a informação espírita de que o pensamento qualifica os fluidos, determinando as condições físicas e ambientais de cada um, encarnado e desencarnado. O que impede um aproveitamento funcional e mais favorável dessa capacitação humana. Por outro lado, tem servido de amedrontamento e ameaças, ao invés de ser promotor de lucidez e libertador. É falado sobre a força do pensamento, mas enviesado para uma espécie de misticismo religiosistico e temeroso, no sentido de uma quase obrigação de só haver bons pensamentos, o que é questionável sob vários aspectos e possibilidades reais.

Fica incluída nesse pacote, a não associação do modo de pensar com o arbítrio, embora ambos nasçam e funcionem juntos.

A percepção de maus fluidos gera medo e pedidos de socorro aos bons Espíritos, o que é natural, embora a ação mental própria, precise ir sendo desenvolvida, na medida do possível.

Uma boa prática que ajuda a criar coragem de agir por si, independente da colaboração de Espíritos e pessoas, nas horas difíceis, é a da faxina fluídica no lar. Uma prece e pensamentos de luz em todos os cômodos e cantos da casa, promove a qualificação melhor dos fluidos ambientais e dificulta, um pouco que seja, a presença de Espíritos oportunistas e/ou mal intencionados, que sintonizam com os pensamentos e conduta dos encarnados.

8. O Princípio espírita e lei universal da existência do Perispírito, deriva da lei universal dos fluidos, sendo o nome espírita para o corpo dos Espíritos conhecido desde a antiguidade. É matéria em estado fluídico, única condição em que o pensamento do Espírito atua sobre a matéria e desse modo pode transmitir sua vontade para o corpo físico, quando em estado de encarnação. O perispírito dá forma e identificação aos Espíritos, mas é apenas uma película de fluido, e por ser matéria é inerte. Ou seja, não age, não pensa, não é um ser, não sente, não machuca, não dói, não estraga. Se numa hipótese fosse afastado do Espírito, voltaria a compor a atmosfera fluídica do corpo celeste no qual esteja, pois é formado dos materiais que o compõem.

Como as caraterísticas evolucionais e de temperamento do Espírito caracterizam seu perispírito, toda real melhoria moral que desenvolva, é refletida numa qualidade fluídica menos densa de seu corpo perispiritual.  Assim, cada Espírito em um mesmo planeta, tem seu perispírito com características fluídicas diferentes do das demais, embora o corpo físico tenha idênticas funções e necessidades.

As disfunções e doenças do corpo denso, são a materialização dos equívocos do Espírito que afetam o perispírito, alterando sua vibração. Por isso, receber a emissão de fluidos sadios e regeneradores pode reequilibra-lo e promover a cura do corpo; desde que o problema já tenha cumprido sua função e que a pessoa modifique os pensamentos que o produziram.

No pacote de erros, dizem que o perispírito tem  um cordão de prata que o liga ao corpo durante a encarnação, sendo que isso é só uma ilusão de ótica, pois quando o Espírito se afasta do corpo que dorme, fica ligado em ambos, o que é visto pelos desencarnados.  Também é divulgado um absurdo que seria a dificuldade dos Espíritos superiores ajudarem  os habitantes de mundos atrasados, pois têm que sofrer por longo tempo para adensar seu perispírito, ignorando que toda vez que um Espírito vai adentrar a atmosfera de um corpo celeste, desliga-se  do material que compunha seu perispírito e se reveste daquele de onde entra. E é ensinado de forma amedrontadora, cruel e ilusória, que os erros, vícios e enganos morais marcam fisicamente o perispírito, deixando todos verem as “dívidas” do Espírito, como se fosse um condenado exposto ao público. O que estabelece uma série de erros conceituais, desconhecendo que os Espíritos estão em processo evolutivo e que todos erram em muitas coisas, antes do necessário amadurecimento para perceberem e se corrigirem; que as propriedades da matéria perispiritual são as dos fluidos e não sofrem alteração física;  e que são os pensamentos que determinam a vida de cada um.  Os pensamentos sendo a origem dos atos, quando intensos estampam-se no perispírito, como criações fluídicas temporárias, mas não marcam sua estrutura

Esses enganos conceituais, além de criarem   desvios do entendimento dos Princípios, fortalecem o medo, a obediência cega e a negação da postura mental autônoma, por estimularem a de seguir os considerados líderes e autoridades, com objetivo de não errar para não ser punido com uma pseudo reencarnação de dificuldades, defeitos e sofrimento.

9. O Princípio espírita e lei universal da Mediunidade é conceituado como uma capacitação espiritual desenvolvida, gradativa e naturalmente, na fase evolutiva humana.  Sendo passível de treinamento, como todas as capacidades, poderá ser entendida em suas especificidades pessoais, administrada e utilizada conforme as condições, os objetivos e a consciência ética de cada um.

Inerente ao ser humano, não constitui privilégio e nem superioridade espiritual; existe nos mais diversos graus de desenvolvimento e poucos percebem que a possuem; geralmente aqueles em quem ela esteja bastante desenvolvida e com manifestações notórias e ostensivas, o que independe da moral, da idade e da filosofia de vida. Obviamente sua função é a de estabelecer relações claras e diretas com os desencarnados, o que faz parte natural da vida. Portanto, sua existência não visa só reuniões em Centro espírita ou equivalente. Também não existe para ser usada como ato de suposta caridade, e muito menos como veículo de vaidades, poder e prestígio; isso ocorre quando o orgulho e os interesses menos dignos predominam.

O médium, aquela pessoa assim denominada convencionalmente, por ter a mediunidade bem desenvolvida, é uma pessoa semelhante as demais, com suas imperfeições evolucionais humanas. Nem é pior e nem melhor que ninguém. Endeusamento de médiuns é desvio de rota de quem age assim, pois ilusão trará desilusão; e o alvo dessa conduta está sendo ajudado à prepotência, vaidade e a ser objeto de domínio de Espíritos mal intencionados. O exercício da mediunidade, é veículo de aprendizado pessoal e pode beneficiar desencarnados e encarnados, mas não isenta o médium das naturais vicissitudes humanas e nem o absolve das necessárias experiências, onde acertar e errar constituem o processo evolutivo.

Os tipos mediúnicos, manifestados de forma física ou intelectual, dependem das características pessoais de cada médium.

Mediunidade não estabelece sintonia e ligação com Espíritos. Isso só é feito pelo teor dos pensamentos   costumeiros do médium. O que não impede que possa ser intermediário de outros Espíritos em certas oportunidades ou reuniões mediúnicas com finalidade específica.

Kardec indica a análise rigorosa de todas as comunicações, como único critério para avaliação de seu conteúdo. O que implica em retidão de juízo e várias opiniões.

No pacote de erros, é ensinado que o médium tem obrigação de fazer parte de reuniões mediúnicas da Casa espírita, pois a mediunidade só existe para fazer “caridade” aos infelizes sofredores e maus. Há quem diga que essa prática diminui as “dividas” da pessoa com Deus e a livra de muitos problemas e dificuldades. Também a mediunidade pode ser vista como privilégio de seres superiores aos demais – os donos da verdade; dizem-se “flores frágeis” e vítimas de Espíritos maldosos que os perseguem por estarem servindo a Deus! No sentido oposto, pode ser vista como punição divina por erros graves de vidas. Neste caso, o médium aceita a sugestão de que traz culpas e se não a exercer será castigado com perturbações espirituais e vida desajustada.

A má informação de que mediunidade “atrai” Espíritos faz com que haja o temor de ir a certos lugares, aonde Espíritos se “grudarão” com os médiuns.

Muitos vivem adoentados e perturbados e culpam a mediunidade, jamais aceitando que sua vida  depende exclusivamente de como pensam.

Faz parte dos desvios de entendimento, o atendimento a Espíritos necessitados, em reuniões mediúnicas por “baciada” ou seja, há dois minutos de “diálogo” e o Espírito é despachado para seguir os guias da Casa; assim haverá tempo de atender outros…

Além de ser dito que os bons médiuns são intermediários apenas dos Espíritos elevados, e as mensagens por seu intermédio devem ser aceitas e obedecidas sem questionamento. São palavras de Deus…

10. O Princípio e lei universal dos Espíritos em  Erraticidade conceitua que, a matéria densa sendo agregada haverá necessariamente a desagregação em alguma ocasião. Lei determinista. No caso do corpo de carne que os encarnados possuem, ocorre a morte deste e o Espírito com seu perispírito permanece existindo; fica, por um tempo variável, no estado de desencarnado/em erraticidade, até sua próxima encarnação.  Nada a ver com errar, no sentido de equivocar-se, e sim não ser obrigado a permanecer em algum lugar, podendo ir aonde queira. Embora os desencarnados costumem se agrupar por afinidade, formando até comunidades de semelhantes, a lei universal não determina que haja lugares fixos, determinados e circunscritos para eles. No estado errático, estarão onde desejam, se afinisem ou escolham; seja na superfície do planeta ou longe dela; junto dos encarnados ou distantes deles, como escolham ou possam.

No pacote de erros, os desencarnados culpados vão para o umbral, lugar medonho, onde pagam duramente tempos por seus erros, com dores e sofrimentos físicos atrozes, até se arrependerem e pedirem clemência. Raciocínio este que inverte o Princípio espírita da materialidade inerte do perispírito e de que esse corpo não sofre dores, males ou qualquer tipo de desagregação. A memória da dor, do sofrimento físico e moral é que dão ao Espírito em erraticidade, a ilusão de serem físicos. Sim, as dores morais permanecem reais, pois não dependem da matéria e sim da situação íntima de cada um. Outro equívoco é ser dito que Jesus e os Espíritos bons e elevados, choram por causa de nossos erros e calamidades; sofrem muito por nós! Certamente o objetivo é por medo e promover a obediência e a heteronomia. Também é divulgado que médiuns dedicados são recebidos por Jesus, após a desencarnação, e premiados com a felicidade perene. São os eleitos…

11. O Princípio e lei universal da Influência dos Espíritos sobre os encarnados é conceituado como uma ação sempre oculta, imperceptível, das mentes dos desencarnados para os encarnados, por sintonia.

Embora cada Espírito tenha sua mente, não há um isolamento total, pois as conecções espirituais se fazem mentalmente. È a manutenção de nossa condição de humanidade e sociabilidade, nos dois estados da existência. Óbvio que essas conecções só ocorrem por afinidade, mas esta é mais sutil e generalizada que se possa pensar.

Mesmo que despercebidamente, todas as ligações experienciadas com pessoas ou desencarnados, tem como base a consonância de pensamentos e sentimentos. É o Espírito que pensa e o pensamento reflete no corpo perispiritual, caracterizando-o com a qualidade do pensamento, e produz no corpo físico as “químicas” correspondentes, pelo determinismo da matéria densa.  Além disso, é projetada para o ambiente, promovendo a sintonia com outras pessoas e Espíritos que pensam de maneira semelhante, “engrossando” o pensamento, ou seja, intensificando-o. Formam-se redes de interinfluências e correntes vibratórias, semelhantes as marítimas ou aéreas.

Somente com escolhas de pensamentos e sentimentos “melhorzinhos”, fazendo o uso da inteligência racional e desenvolvendo a autonomia, é que vamos, pouco a pouco, criando condições suficientes para alterar para melhor nossas ligações espirituais.

A maneira pessoal de agir consigo facilita ou dificulta influências, sejam ruins ou boas. Rotinas mentais, emocionais e comportamentais, cultivo de medos e descaso consigo, costumam nublar as influências, dando às negativas um espaço muito prejudicial. Já uma auto-observação respeitosa, higiene mental, coragem de mudar condutas percebidas como desastrosas, busca de melhores sintonias pela prece, ocupação mental e física sadias, respeito a si e às diferenças, espírito de aprendiz e interesse em estudar e conhecer mais, ajudam bastante.

No pacote de erros, a influência espiritual costuma ser confundida com a mediunidade, embora esta seja sempre perceptível, de alguma maneira. Quando a influência for percebida, já está configurada a mediunidade. Também há o engano da suposição de que médiuns não recebem influências ocultas.

Outro equívoco é a ideia de que pessoas obedientes, temerosas a Deus, boas, não são influenciadas por Espíritos mal intencionados e vingativos. Seriam protegidas de problemas e maldades.  

Atos caridosos não impedem as sintonias correspondentes às características pessoais, pois as influências espirituais fazem parte do natural da vida.

12. O Princípio e lei universal da Ação dos Espíritos sobre os fenômenos da Natureza, é conceituado como sendo Espíritos em vários graus evolutivos, os responsáveis por fazerem os pequenos e grandes fenômenos da Natureza. Uns dirigindo e outros atuando, movimentam os elementos materiais e realizam a manutenção das forças físicas do planeta, com vistas a que continue oferecendo recursos para a vida que há nele.

Sendo inerte, a matéria não age, não se organiza e nem se agrega. São Espíritos que fazem isso.

No passado histórico, havia a ideia de seres chamados ninfas, fadas, dríades, etc. como responsáveis pela manutenção da Natureza. Moravam nas árvores, rios, vento, etc. Existiriam com essa exclusiva finalidade. Apesar dos limites da época, é um demonstrativo da percepção natural da realidade trazida pelos Espíritos que compuseram o Espiritismo.

No pacote de erros, esse Princípio fica praticamente inexistente e é dada continuidade ao ensino dogmático religioso de Deus ter criado céus e terra, todas as espécies existentes e realizar os fenômenos naturais. O que sustenta o engano de que a  matéria agir por si.

13. O Princípio espírita e lei universal da Pluralidade dos mundos habitados conceitua que há algum tipo de vida em todos os corpos celestes cuja existência não tem finalidade de enfeitar o espaço sideral, como já foi pensado em tempos passados e firmado como dogma religioso. Jesus se refere diretamente a esse Princípio, falando das muitas moradas na casa do pai.

No pacote de erros, pouco se fala desse Princípio. Quando apresentado, o é de forma pouco convincente, talvez pelo fato da Ciência astronáutica negar essa informação.

14. O conceito espírita de Deus é a do Criador, acima de nossa possibilidade de compreensão. Não é Espírito e muito menos pessoa, não interfere no espaço-tempo. É explicado pelos Espíritos que compuseram o Espiritismo, como inteligência suprema, causa primeira do que existe: as leis universais, o Elemento Espiritual primitivo e o Elemento Material primitivo. Em cada local e tempo, os humanos entenderam Deus como puderam, dando-lhe no geral, características humanas e poder de vida e morte.

Com o Espiritismo veio o grande diferencial conceitual, excluindo toda e qualquer semelhança aos humanos.  

O conceito de Deus que cada um tem em seu íntimo, pode ter sido formatado em vidas passadas, o que pede exame em nome da coerência espírita, porque do modo que se pensa sobre Deus pensa-se sobre a Vida.

No pacote de erros, Deus é entendido como um ser, uma pessoa todo poderosa, mas com sentimentos e comportamento humanos; é um juiz condenador que pune e premia, intervêm na vida das pessoas, decidindo e escolhendo acontecimentos, conforme seja obedecido ou não. Ele sabe o que é bom para cada um de nós. Por isso, quanto mais se pede em preces, mais Deus nos ouve e atende; observando-nos, estabelece os castigos em conformidade com a desobediência cometida.  Tem preferência pelos submissos às regras religiosas. Muitos dizem conversar com ele. Também é ensinado equivocadamente, como no velho testamento, que ele criou céus e terra, cada espécie vegetal e animal, os minerais e comanda os fenômenos da Natureza. Em preces e frases de efeito, costuma ser confundido com Jesus, mesmo entre espíritas.


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Diante deste pacote de erros,

nosso primeiro convite é para uma profunda reflexão

sobre como você pensa sobre os Princípios do Espiritismo.

Percebendo que precisa rever algo,

é hora de empreender um reestudo das obras de Kardec.

A sugestão é que evite entender, e muito menos interpretar, pelo que já sabe;

mas tome uma atitude mental de aprendiz.

Aprender com Kardec.

Vai redescobrir o Espiritismo!

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Sob nosso entendimento, os Princípios do Espiritismo são os seguintes:

Deus, o Criador, Espírito e Matéria – os elementos criados por Deus, as leis universais: Imortalidade dos Espíritos, Reencarnação dos Espíritos, Evolução dos Espíritos, Livre arbítrio, Consequências naturais do arbítrio, Fluidos, Perispírito, Espíritos em erraticidade, Mediunidade, Influência dos Espíritos sobre os encarnados, Pluralidade dos mundos habitados e Ação dos Espíritos sobre os fenômenos da Natureza.

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Princípios, do ponto de vista de uma ciência, uma filosofia ou uma doutrina, são as ideias básicas que a estruturam e distinguem das demais.

A Unidade de Princípios espíritas, estabelecida e projetada por Kardec, se fará quando todos os espíritas tiverem por base de seus estudos, raciocínios e práticas, os mesmos Princípios.

Eles são sua coluna mestra, seu alicerce estrutural, sua filosofia e pedagogia; e o critério essencial para entender o diferencial que trouxe ao mundo, explicando sob leis universais, o funcionamento da Vida, em todas as suas nuances teóricas e práticas.

Por isso, sendo ciência filosófica, o Espiritismo promove consequências morais.

De cada Princípio derivam inumeráveis temas e assuntos, que ampliam e aprofundam seu entendimento, sem alterá-los em suas conceituações básicas e específicas. Como funcionam em conjunto, as derivações são infinitas.

Esses Princípios foram delineados nos temas tratados em O Livro dos Espíritos, conforme as próprias palavras de Kardec. Na introdução, item VI, foram distinguidos, não didaticamente, mas podem ser reconhecidos.

Alguns deles estão desdobrados nos demais livros.

As leis morais contidas em O Livro dos Espíritos são aplicações práticas dos Princípios básicos.

Princípios verdadeiros não são inventados. No Espiritismo, foram deduzidos dos fatos observados e testemunhados e dos ensinos trazidos pelos Espírito que o compuseram, como Kardec escreveu.

Um dia saberemos o que ele pensa sobre esta lista de Princípios, que entendemos serem os do Espiritismo.

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