A cura

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“Enquanto caminhávamos por aquelas ruas estreitas, eu e Joana conversávamos.

Compartilhava com ela minhas angústias e aflições, que confesso, só sofriam alguma amenização, quando daqui ou dali conseguia avistar o mar. Era como se aquele azul, transbordando mil encantos, me dissesse: “calma amigo, tudo irá passar”.

Ao dobrarmos a esquina nos deparamos com um imenso Pórtico. Um pequeno grupo de pessoas estava ali reunido em torno de um homem de meia idade, de cabelos brancos, trajando simples estamenha.

E na medida que nos aproximávamos ouvíamos com maior nitidez a sua voz que transpirava amor fraternal, e sinceramente, sem saber como nem porquê, nos juntamos à seleta plateia, embevecidos com aquelas palavras que pareciam brotar diretamente de seu coração cheio de mansidão e doçura.

Mesmo terminando sua preleção ainda nos foi possível ouvir-lhe o fechamento das ideias:

“É porque os estados negativos da mente, como sejam tristeza e azedume, angústia ou inconformidade, constituem sombras que o entendimento e a bondade são chamados a dissipar…”

O sábio mal terminara de falar e vimos levantar-se entre os ouvintes uma pergunta, ouvida com especial atenção daquele, cuja generosidade paternal se fazia notar não só pelos gestos, mas sobretudo, pelo olhar.

“Mas, mestre, como poderia a bondade exercer semelhante influência? Causar tais efeitos?”

E aquela figura terna, ao passo que austera, ergueu os olhos contemplando o mar azul, refletiu por um instante, e respondeu:

“A bondade, tal qual a própria humildade, possui recursos para cancelar grande parte das paixões que nos roubam a paz da alma. Um bom coração tem o poder de neutralizar, através da prática da tolerância, as ações nascidas da ignorância e da incompreensão dos outros para com ele. Da mesma forma, o exercício da humildade efetiva e autêntica, descomplicando o caminho da vida, acaba por evitar que carreguemos imensos fardos de inutilidade em nossa caminhada”.

E à medida que eu e Joana nos afastávamos dali, senti meu coração mais leve, e imediatamente, me pus a meditar sobre o papel medicamentosos e balsâmico da compreensão na cura dos males da alma.”

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