18 de junho de 2010
por Cristina Sarraf
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Modismos e olhares enviesados

olhar-enviesado

Lidar com a superioridade de alguém causa algumas complicações naturais, porque cada um de nós encara e entende essas características com as próprias, que não estando á altura daquelas, resulta num entendimento nivelador, fruto de um olhar enviesado ou, numa exaltação exagerada. Há muito disso nos meios espíritas atualmente.

Entendendo que superioridade e inferioridade são sempre posições relativas -mas relativas a quem?- não ver a profundidade ou endeusar são as posturas mais comuns. A incomum é a observação das características da superioridade.

Quando Bezerra de Menezes recebe um pagamento adiantado para ministrar aulas e o aluno não volta mais, e ele precisava urgentemente daquela quantia, não indica superioridade moral, porque conheço várias pessoas com as quais fatos semelhantes a esse ocorreram, inclusive comigo. Ele dar o anel a quem não tinha dinheiro, já revela um desprendimento alem do comum. No entanto, não são as obras caritativas que o colocam como um Espírito mais elevado que a grande maioria de nós, porque há muita gente agindo anonimamente com essa compreensão social, se bem que para isso há necessidade de amadurecimento moral. É no conjunto da vida e da obra que está a contribuição que Bezerra deixou, como sua participação no contexto social em que viveu, e que apontam para sua superioridade relativa a nós.

Voltando os olhos para Kardec, os raciocínios serão os mesmos. Está no conjunto gigante da contribuição que deixou, a revelação da sua posição espiritual. Se há pontos mais fortes e outros não tanto, isso é natural e demonstra que estamos diante de um homem em evolução, mas empenhado em aprimorar-se, o que exemplifica a diminuição do orgulho e da prepotência, presentes naqueles que se consideram donos da verdade. Kardec chega a dizer que muitas das informações dos Espíritos eram opostas às convicções dele, mas examinou com atenção, questionou-as e acabou por aceitá-las, pelo bom senso que continham e pela unanimidade das respostas.

Desde antes do Espiritismo ele revê seus escritos, muda títulos que havia dado a livros que escreveu e abandona primeiras edições para firmar-se nas revisões, como fez com O Livro dos Espíritos, por exemplo. Essa modéstia não significa que sua obra esteja á mercê de nossas intromissões e achismos, como muita gente pensa.

No momento atual, o crescimento do pensamento científico e do pseudo-científico, juntamente com o do número de espíritas, aponta uma tendência que ninguém estancará, de análises do conteúdo do Espiritismo á luz desses avanços, alguns muito úteis e esclarecedores e outros mais fruto do orgulho que do bom senso.

A vertente científica do Espiritismo, estabelecido por Kardec como uma ciência filosófica de consequências morais, realmente precisa desenvolver-se, pois ela ampliará nossa compreensão para a aplicação minuciosa dos seus Princípios, e levará a humanidade a eles, mesmo que sem o rótulo espírita, até porque são leis. universais.

Pode-se compreender o entusiasmo de pesquisadores, autores e leitores desses trabalhos, em relação aos avanços de algumas ciências, e até mesmo as dúvidas e questionamentos no que tange ás informações espíritas, cotejadas com essas novas conquistas científicas. Mas não de pode aceitar que um autor, um pesquisador, uma descoberta científica, antes de muito tempo de confirmação de suas possíveis verdades, sejam o parâmetro, o metro para se medir o Espiritismo e Kardec, e mais que isso: para aprová-lo ou reprová-lo, mesmo que parcialmente, como temos visto acontecer.

Voltando ao relativo das superioridades, quem são, o que fizeram, há quanto tempo fizeram e qual a contribuição que trouxeram para a melhoria da vida na Terra, tais aparentes parâmetros, para serem comparados com o trabalho de Kardec, ou mesmo com a pessoa dele.

Fica mais do que claro aos estudiosos imparciais, que o Espiritismo é uma visão nova, uma filosofia de vida totalmente diferente, renovadora dos conceitos de ser e viver; sendo passível de observação, análises e experimentos e tendo leis básicas que o caracterizam, é uma ciência que se mostra renovadora e exclusiva, por ser a única cujo foco são os seres inteligentes da criação divina: os Espíritos, em atividade. Seu estabelecimento é da responsabilidade dos Espíritos que instruíram Kardec, cuja postura e critério científicos foi de não apoiar a idéias de um, por mais brilhante que fosse, e sim aguardar que a universalidade dos ensinos lhe desse a segurança de adotar uma idéia ou conceito. Como então tomar a opinião de um para analisar o Espiritismo?

Ao contrário, é o Espiritismo que deve ser o parâmetro para se verificar se autores, cientistas e pesquisadores estão no caminho da verificação das leis que ele apresenta como bases de suas características inalienáveis.

E essa não é uma posição de fé cega ou deslumbrada e sim uma questão de lógica. Estamos vemos a renovação ideológica que o Espiritismo estabelece ou não a vemos. E se há pontos pouco desenvolvidos, que os desenvolvamos, mas com base no que foi estabelecido como seus Princípios, porque se mudados, deixa de ser o Espiritismo.

Há quem tome idéias materialistas para explicar o funcionamento da vida e dos Espíritos, em franco desacordo com a mínima lógica, porque Materialismo e Espiritismo tem pontos de partida e valores opostos e incompatíveis. Como comparar e picotar os ensinos espíritas por idéias materialistas? No terceiro milênio passamos a somar bananas com laranjas?

Esse modismo passará, como outros passaram, mas enquanto isso não se dá, fazem seus estragos, sobretudo entre os que pouco estudam, naqueles mais crédulos, nos buscadores de novidades e nos orgulhosos detentores da verdade. Kardec fala sobre esses episódios, no item 349, capítulo XXIX de O Livro dos Médiuns.

Aos corrigidores de Kardec, independentemente dele ter sido apenas um Espírito encarnado numa determinada época, e portanto nenhum deus, mas bastante lúcido e sábio para vislumbrar aquele mundo de coisas novas que se lhe chegou, pedindo suas horas de sono e sua dedicação, para que se tornassem livros e inaugurassem uma era nova de luzes e esclarecimento das leis da vida -compromisso que cumpriu o melhor que pode- só podemos dizer que a inveja não faz bem para os olhos nem para os neurônios, porque os nubla e obscurece seu funcionamento.

Aliás, não é compatível com superioridade…

18 de junho de 2010
por Teresinha Olivier
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Religião com Espiritualidade

espiritualidade

Há milênios a religião tem sido motivo de separação, de preconceito, de ódio, de guerras, de intolerância, de medo, enfim, de sentimentos contrários àqueles que deveriam nutrir os corações que se entregam a uma doutrina que visa a ligação com o Criador; chegando-se mesmo a praticar barbaridades contra o semelhante em nome dele.

E por que esse disparate, essa contradição? Por que a humanidade tem tanta dificuldade em assimilar os conceitos de amor, de bondade, de fraternidade que fazem parte da essência das religiões?

Em todos os povos de todos os tempos verifica-se a valorização das práticas exteriores de demonstração da religiosidade e o menosprezo por aqueles que têm práticas ritualísticas diferentes. A forma tem muito mais força no coração e na mente dos homens do que o fundo, do que a essência. Isso sem falar dos dogmas, que já foram motivo de crimes e de torturas na história da humanidade e que devem ser aceitos sem discussão, sem análise, deformando as mentes das criaturas, a ponto de se ver naquele que os discute um inimigo que deve ser destruído.

Desde os tempos mais remotos, a religião tem sido usada como pretexto para o domínio, para o controle dos povos, insuflando-lhes, através do medo, a idéia de que somente a sua forma de adorar a Deus é a correta, é a salvadora, sendo que as demais levam à perdição. Foram induzidos até a temer o contato com pessoas que comungam idéias diferentes.

Infelizmente, até os dias de hoje, em pleno século vinte e um, essa idéia castradora ainda vigora em muitas correntes religiosas, nutrindo o preconceito entre os seus adeptos.

Enquanto se ficar discutindo os conceitos dogmáticos e ritos particulares de cada religião, achando cada uma estar com a verdade absoluta, e as demais estão baseadas na mentira ou que são conduzidas pelo demônio, a intolerância e o preconceito continuarão separando as criaturas que fazem parte da mesma humanidade, que são todas filhas do mesmo Pai e foram criadas por ele com o mesmo amor e com a mesma finalidade.

Os adeptos das religiões cristãs, que têm por base os ensinamentos de Jesus, e deixam de prestar auxílio aos necessitados por pertencerem estes a correntes religiosas diferentes da sua, não compreenderam a essência da sua religião, que é o amor a Deus e ao próximo, ensinado e praticado por Jesus, que não fez distinção alguma entre as criaturas que o procuravam. A todos distribuía seu amor, independentemente de raça, de credo religioso, de condição social e moral.

Quando os Homens deixarem de discutir e de pôr em evidência as particularidades das religiões e se voltarem para os ensinamentos morais de cada uma, como a solidariedade, o amor, o perdão, a tolerância, a caridade, fazendo com que esses conceitos tenham mais força em seus corações e mentes do que os rituais e os dogmas, estarão de fato desenvolvendo uma espiritualidade maior; estarão elevando seu pensamento e seu sentimento a um patamar superior às convenções humanas.

O objetivo de Jesus, que não pertencia e nem criou nenhuma religião é que os Homens se vissem e se amassem como irmãos, apesar de suas diferenças.

A função da religião seria, então, mostrar ao Homem o caminho da espiritualidade. Quando isso for entendido não se fará dela motivo de ódios, preconceito e separação, mas sim de união, fraternidade e amor.

Precisamos separar, nas religiões, aquilo que é de inspiração superior, que são os ensinamentos que elevam a alma, daquilo que é criação dos Homens; aquilo que enaltece os pensamentos e sentimentos, daquilo que deforma a mente dos crentes; aquilo que nos leva a nos vermos como irmãos, daquilo que nos leva a nos vermos como inimigos.

O fanatismo sempre foi e ainda é uma arma letal contra a fraternidade e a união entre as criaturas. Somente a fé aliada à razão, como nos ensina o Espiritismo, poderá, de fato, promover a verdadeira fraternidade, pois aprenderemos a ver e respeitar em cada semelhante que pensa diferente de nós, um Espírito em evolução, escolhendo seus próprios caminhos, como nós escolhemos os nossos.